segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

último pensamento antes de entrar nos 30 anos:

Weeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ;)))))

domingo, 30 de dezembro de 2007

mas que ASAE do caraças!

Termino este ano de 2007 com uma mensagem de profundo desagrado: quem foi a alminha que um dia se lembrou de colocar sensores em vez de interruptores nos wc's de restaurantes e cafés? Estou cansada de fazer aeróbica de cada vez que preciso de fazer um chichi, para que a porcaria do sensor dê pela minha presença... Pois, estas coisas que causam mal-estar ao cliente é que deveriam ser da competência da ASAE...

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

poetas da madrugada

Entro. Subo e sorrio pelas escadas.
“Podia viver aqui” – digo-me; avanço
em busca de ti nas demais entradas.
Encontro-te: as palavras, o descanso.
“Não jantei ainda. Quero um copo de vinho.”
Paredes, salas imensas, corredores,
perdemo-nos, rimos, inventamos caminho
no humano tráfego, nesta ilha dos amores.
Música, vozes, gravidades: são vinte e uma
as rítmicas em choque simultâneas.
Sensoriais, gente que dança e bebe e fuma
sem ontem ou amanhã: mutações espontâneas.
E a noite cai, de lábios carmim,
Abafado, o som pelo prédio ecoa.
Descubro-te absorto: observas-me assim.
E murmuras: “És a mulher mais bonita de Lisboa.”
“Tenho fome! E o vinho que termina...”
Seguimo-nos pelos corpos tantos,
escapamos aos acenos – Lisboa, moça, menina –
nela nos esquivamos: pelas esquinas, pelos cantos.
Degraus abaixo, cruzamos a porta
penetramos a noite fria de mão dada.
Um beijo, um abraço. E a avenida que é morta
vive agora, em nós, poetas da madrugada.

calmaria

O vento passa por entre os pinheiros
Num sopro suave, dança, ao entardecer
Púrpuras, as nuvens, são como veleiros
Navegam em mar de céu de vista a perder.
Sossega, criança, a noite desprende devagar
Há caruma aos pés, musgo fofo de almofada
Bolotas e cogumelos, frágeis teias d’encantar.
Faz um barco de carcódia, partes com a alvorada.
Acolá, uma rã mergulha nas águas quietas
Cobertas de ervas e limos. E mais duas que saltam!
Mil cores reflectidas: libélulas de asas abertas
São as princesas que nesta história faltam.
Com folhas de castanheiro faço uma coroa bela
Sou a rainha orgulhosa deste pedaço de terra
Tenho um exército de bugalhos e uma espada amarela
Corro atrás dum gafanhoto e declaro-lhe guerra.
Toca uma orquestra inventada pelas ladeiras
Os muros passados a salto, em ritmos ermos
São entraves breves – há mil e uma maneiras
De viver outras vidas: basta querermos.

natal n'aldeia

Serve-se o silêncio à mesa
Em travessas regadas de azeite.
Fumegam as couves, a candeia acesa
O frio de nós: um doloroso enfeite.
Os copos de vinho cheios, tinto
No lugar onde abraços deveriam.
Somos poucos e demasiados – sinto
Que paz e amor há muito partiram.
Passa-me as batatas, tu, o bacalhau
O pão já partido, fatias de broa.
“O vinho escorrega bem, não é nada mau!”
E, mal disfarçada, a mágoa de sempre ecoa.
Polvilham-se de açúcar os dizeres
Na esperança (vã) dum Natal sereno.
Desde q’haja comeres e beberes,
As boas festas cospem-se num costume ameno.
São poucos à mesa – tanto faz menos ou mais
Pesado o ar, custa respirar, sufocamos
Presos em memórias de figuras ideais.
Levanta-se a mesa: nós não nos amamos.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

o comprovativo de morada

Há coisas que, por muito boa vontade que tenha, não consigo compreender. Uma delas é o comprovativo de morada. Tomemos o seguinte exemplo:

Senhora ao balcão da TMN: Muito bem, agora só preciso dum comprovativo de morada...
Eu, apontando para a as condições de adesão a um certo serviço de Internet: Comprovativo de morada? Mas aqui só dizia para apresentar a carteira profissional e o BI...
Senhora da TMN: Sim, mas para fazer o contrato preciso dum comprovativo de morada ou da carta de condução.
Eu, já a ficar impaciente: Mas eu não conduzo. E não costumo andar com as contas da água e da luz na mala depois de as pagar... Podiam ter avisado. Então e não tem aí a minha morada no sistema?
Senhora da TMN: Não, porque a senhora tem a opção de carregamentos...
Eu, revistando furiosamente tudo o que é livro, agenda, carteira, em busca de uma conta ou carta qualquer, sem sucesso: Então e não posso levar já hoje o equipamento? Amanhã de manhã venho cá entregar o comprovativo... Pode acreditar em mim, eu sou boa pessoa! (Se fosse um gajo ao balcão, já o tinha conquistado com duas ou três piscadelas de olhos, de certezinha!)
Senhora da TMN, com ar de funcionária de repartição de finanças: Não, porque é preciso ter a sua morada para poder fazer o contrato...
Eu, suplicante: Mas eu digo-lhe a minha morada. E até ligo para uns quantos amigos para que confirmem que moro aí... Olhe, tenho aqui o cartão de eleitor, que diz "Junta de Freguesia de Alcântara". Serve?
Senhora da TMN: Não.
Eu: Chuinf...

Nota: Ligue-se à Internet em qualquer lugar? Pois sim... Se eu fosse sem-abrigo e não tivesse um comprovativo de morada - para alguma coisa positiva as contas tinham de servir, afinal... - queria ver se me podia ligar à Net no meu banco de jardim...

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

duchamp tuga

Andamos em obras no local onde trabalho. Podiam mandar o pessoal para casa, mas nããããããoooooo... Para além do incómodo que é escrever ou falar ao telefone enquanto secretárias são arrastadas e paredes são raspadas e pintadas, há coisas que não se fazem a ninguém: levaram o urinol da casa-de-banho dos homens! Tenho para mim que um dos empreiteiros com mania que é o Duchamp o levou, à laia de "ready made", para fazer um centro de mesa para a ceia de Natal. De qualquer forma, já incitei os meus colegas masculinos à revolta: "Ei, gajo, não sejas mole, devolve-nos o urinol!"...

Jazz em mim

Jazz em mim.
Escrevo no peito contorno, morno
o epitáfio indelével, letra a letra bordado.
D’entre sépias flores secas, o adorno
dum beijo morto ao nascer, porque dado.
Jazz em mim, assim
numa imagem nascida dum cheiro,
numa dança que os sentidos engane,
escorrega-nos, licoroso, um gole de Coltrane.
Jazzas-me, pois, tão bem, homem inteiro.
E o gotejar e o chover palavra e gesto
em compassos delicados doces de quente.
Abraças-me, ampla, à mulher e ao resto
que na cadência te quer, te olha, te sente.
Jazz...
Assim creio: o teu corpo perece
no desfalecer e pele de nós liberta.
Sou! A terra que agradece
a vinda de ti em luz descoberta.
Jazz em mim. Sim?
Sulca-me de dedos as rugas, fugas
dos corpos nossos já sepultados.
Escavamo-nos. Recusa o ar que ainda sugas
que voz e cântico és, cinza e pós misturados.
Jazz em mim.
Assim.
Suspiros no ouvido em si bemol;
velam-se os mortos no vivo lençol.
Cessa, é finda a música. Schhhh... Devagar...
Não acordes agora. Embalo de repousar...
Jazz em mim. Assim...

para T., que me percebe e conhece.

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

este não é um post nacionalista, mas...

Fico deveras preocupada quando esta juventude (leia-se, um amigo com poucos anos de diferença de mim) reconhece num ecrã de cinema referências a "O Sétimo Selo" de Ingmar Bergman, mas não reconhece, numa cena caricatural, uma fotografia de Salazar pendurada numa parede. Há cultura, há cultura, mas cheira-me a impostura...

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

não me interrompam quando estou a mexer em filtros do excel!!!

- Estou sim, muito boa tarde. É a senhora Laura...?
- Sim, boa tarde... Quem fala?
- Fala XXXX da Tv Cabo, como está?
- Outra vez? Mas quantas vezes é que já vos disse para não me ligarem para o trabalho?
- Errr... Não tenho aqui nenhuma indicação nesse sentido...
- Ouça, já vos pedi mil vezes para me ligarem para o telemóvel e não para o trabalho. Escreva aí, se faz favor: "ligar sempre para o telemóvel e nunca para o trabalho".
- Muito bem, vamos ter essa indicação em conta...
- Mas afinal, diga lá o que quer...
- Estou a ligar para lhe falar das nossa promoções no serviço de telefone...
- Ah, muito bem... Mas olhe, eu não tenho telefone fixo!
- Ah, não tem? Hum, estranho, aqui diz que tem...
- Não tenho e não quero ter... Por isso, desculpe lá, mas escusa de estar a gastar o seu tempo... Ah, e da próxima vez, por favor, ligue para o telemóvel!
-....


Aos senhores da TV Cabo, peço desculpa pela minha rispidez... Não é nada pessoal! Prometo ser mais simpática a partir do momento que passarem a ligar-me para o telemóvel. É que, ainda por cima, não costumo atender chamadas não identificadas... ;))))

as coisas que esta gente diz...

"Pá, a Laura tem uma capacidade incrível de escrever sobre nada... Tu pedes-lhe para escrever sobre o ar e pimba!, tens 4 mil caracteres!"

Ehehehe...

sábado, 15 de dezembro de 2007

(re)conhecimento


És o meu outro lado do espelho.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

acende-me um cigarro

Consome-me.
Como quem fuma um cigarro
e deixa o fumo entranhar-se na pele.
Arrepia-me.
Deixa os teus lábios sugar o que de mais puro em mim há.
Sua. Geme.
Com os olhos postos no vazio que existe em ti.
Deixa-te cair.
[8.8.05]

Acende na tua boca o cigarro
num beijo percebido
de fumos trocados
e salivas combinadas.
Fumo a tua saliva.
Sabes-me.
Fumo-te deveras
Na ânsia da última passa
da noite.
De uma noite.
Nos lábios teus o aroma
de um queimar lento
e crescente.
E crescente...
Apago o cigarro
E aguardo, com olhos grandes
e um silêncio de luz
que me dês o próximo beijo
de nicotina.
[13.12.07]

sorriso de pudim

"As pessoas não dizem vezes suficientes a palavra pudim."


foto de rspiff emprestada daqui.

Obrigada, rspiff, meu "irmão adoptado", por teres plantado um sorriso largo e terno no meu rosto com esta afirmação.

Vou passar a dizer mais vezes "pudim". Tantas quantas digo "caruma"...

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

sopa altamente calórica

Os meus hábitos alimentares dificilmente poderão ser designados de "hábitos". Quero com isto dizer que, da mesma forma que num dia devoro um suculento cozido à portuguesa ou uns carapauzinhos com açorda, alturas há em que passo em branco a hora de almoço ou me fico com uma sopa de "hortalisa", como vi há pouco anunciado. O hábito não faz a manjedoura, ou qualquer coisa do género...
Isto para dizer que hoje foi um daqueles dias em que almocei em 10 minutos: "Boa tarde, senhor Avelino. É uma sopa e uma empada de galinha, se faz favor..." E abençoado seja o meu auto-controlo! Gostava de saber quem foi a alminha que, um dia, teve a “linda” ideia de criar balcões de vidro. É certo que é um regalo para a vista entrar numa pastelaria ou restaurante e dar de caras com todas aquelas iguarias maravilhosas, que são também um “regalo” para as ancas e para o rabo de muita gaja que por aí anda...
Felizmente, posso dar-me ao luxo de comer todas as gulodices que quiser, já que, como descobri recentemente, as calças do tempo da escola secundária ainda me servem! Mas não é isso que está em causa. O que está em causa é que não é bonito, para alguém que está de pé, ao balcão, de cara metida na sopa, olhar para a superfície onde repousa a malga e... ele é tortas com creme e pastéis de nata, bolas de berlim e tarletes de mil cores, queques de sabores vários e tacinhas de pudim, bolos folhados e delírios de chantilly...
Ou seja: eu posso ter comido apenas uma sopa, mas os meus olhos devoraram uns belos milhares de calorias!!! Ainda bem que os olhos também comem, mas não engordam...

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

escrever amor


enruga-te em torno dos meus olhos

Grita o teu corpo pelo meu
“Ouves?”
“Ouço.. Schhhh!! Deixa ouvir...”

Se fechar os olhos estás
Aqui comigo.
Ouço a tua pele gritar e o meu corpo
Dança para ti.

Suamo-nos.

Continuo de olhos fechados
E abraço-te.
És o meu poema de rimas ausentes.
Sou escrever para ti
Vamos?
Lambuzarmo-nos de palavras.
Foder como quem escreve
Escrever como quem fode.
Contigo. Para ti.

“Sentes?”
“O quê?”
“O silêncio que vejo aqui da janela...”
“Sim, sinto. Vejo a mesma noite
e as mesmas estrelas que tu”

Trazes as palavras à flor
Da pele.
Quando me descubro, em ti,
Todas as palavras se soltam.
E já não sou eu
Mas um poema
Moldado pelos teus dedos.

Saudade.
Toda.
Todo.
Tanto. E mais tanto...

“Escreve palavras no meu corpo”
Escrevo sim.

“Sou o teu caderno”
Abro-te, em gesto delicado.

“Usa-me!”
Sempre e sempre. Tanto.
Suave saudade eternidade eternecidade efemeracidade
Tanto, tanto!

Mordo a maçã suculenta e verde
E é a tua carne
E és tu nos meus lábios.
Polpa, língua, desfaz-se
Sem pecado, só prazer.

“Ouves o meu corpo gritar por ti?”

Traço a minha caligrafia tremida
Nos recantos de ti.
Faço da tua pele o meu caderno, vinco-te letras
Doces ou impulsivas
Na medida do prazer.

Vou, assim, escrevendo amor contigo.
Quero, assim, foder amor contigo.

“É teu, tão teu...”

domingo, 9 de dezembro de 2007

gostar de palavras

"Estendo o pé e toco com o calcanhar numa bochecha de carne macia e morna; viro-me para o lado esquerdo, de costas para a luz do candeeiro; e bafeja-me um hálito calmo e suave; faço um gesto ao acaso no escuro e a mão, involuntária tenaz de dedos, pulso, sangue latejante, descai-me sobre um seio morno nu ou numa cabecita de bebé, com um tufo de penugem preta no cocuruto da careca, a moleirinha latejante; respiramos na boca uns dos outros, trocamos pernas e braços, bafos suor uns com os outros, uns pelos outros, tão conchegados, tão embrulhados e enleados num mesmo calor como se as nossas veias e artérias transportassem o mesmo sangue girando, palpitassem compassadamente silenciosamente duma igual vivificante seiva.
[...]
Somos cinco numa cama. Para a cabeceira, eu, a rapariga, o bebé de dias; para os pés, o miúdo e a miúda mais pequena. Toco com o pé numa rosca de carne meiga e macia: é a pernita da Lina, que dorme à minha frente. Apago a luz, cansado de ler parvoíces que só em português é possível ler, e viro-me para o lado esquerdo: é um hálito levemente soprado, pedindo beijos no escuro que me embala até adormecer. Voltamo-nos, remexemos, tomados pelo medo de estarmos vivos, pela alegria dos sonhos, quem sabe!, e encontramos, chocamos carne, carne que não é nossa, que é um exagero, um a-mais do nosso corpo, mas aqui, tão perto e tão quente, é como se fosse nossa carne também: agarrada (palpitante, latejando) pelos nossos dedos; calada (dormindo, confiante) encostada ao nosso suor."
*



*Excerto de "Comunidade" de Luiz Pacheco


Estou à beira de mudar de década. Daqui a 22 dias faço 30 anos e estou tranquila. Não sei como vou passar a noite, tão pouco o que farei durante o dia. Talvez entre no novo ano apenas na minha companhia, mas estou serena. Os últimos anos não têm sido fáceis, mas lentamente vou conquistando, finalmente, a paz de espírito de que necessito. Pesem embora as feias e indeléveis cicatrizes que me enfeitam o corpo e os gestos - como diria alguém que conheço, as cicatrizes (as físicas, mas penso que se pode dizer o mesmo das outras...) são "marcas da vida, sinais bonitos, um mapa alternativo do corpo, tatuagens involuntárias" - gosto da vida que fiz para mim.

Estou à beira de fazer 30 anos. E sei que vou gostar de os ter. Se os vou celebrar? Talvez, mas em silêncio. Com um bom vinho e um sorriso largo. A guerra tem sido dura, mas já levo a vitória em algumas batalhas, sei-o. Para ti, homem que foste meu, que prometeste estar comigo nesta altura e em todas as outras e não estás: tenho pena. Poderia ter sido para o resto da vida. Não foi. Já parei de chorar por ti. Demorou alguns anos, o luto. Foi preciso travar graves lutas comigo e com outros, mas parei já. Cresci muito. Muito mesmo. Mais do que já havia crescido antes de ti. E lamento que não estejas por perto para ver e admirar a mulher que me tornei.

Estou à beira de fazer 30 anos. E apesar de hoje ter visto um presente que gostava de receber - a obra "Comunidade", com texto de Luiz Pacheco e pinturas de Cruzeiro Seixas - o preço é absolutamente proibitivo para mim, jornalista tesa, e para todos os meus, muitos deles, igualmente jornalistas tesos (afinal de contas, a minha livraria preferida ainda continua a ser a Feira da Ladra)... A não ser que consiga negociar com o banco o não pagamento de duas prestações do meu crédito à habitação. Passaria a viver, literalmente, debaixo da ponte, mas com a obra de Luiz Pacheco para me dar alento.

Sonhos à parte, estou à beira de fazer 30 anos. E se algum dos meus amigos, amigas, leitores e admiradores (eheheh... pois sim!) quiser surpreender-me e fazer-me sorrir no dia em que mudo de década, é simples: é oferecer-me um exemplar de "Comunidade", não da edição de 750 euros, mas uma qualquer edição. Não é fácil, dada a raridade do livro. Mas pelos excertos que consegui ler aqui e ali, é daquelas obras que nos fazem gostar ainda mais de palavras. E como eu gosto de gostar de palavras...


sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

a dor escondida

Com vergonha, não tiro o casaco, para não se ver as marcas no braço... Ele não fez por mal, digo para mim própria, para me tentar convencer de um amor qualquer. Ele não vai voltar a fazer-me isto, repito. A conversa matinal é igual a tantas outras no passado.
- Então, que se passa com o teu braço?
- Hum... Dei um mau jeito ontem à noite...
- Não me mintas. Foi ele outra vez, não foi?
- Foi... Mas foi a última vez. A sério que foi!
- Ouve, é sempre a última vez. Até que volta a acontecer... Vivem juntos há cinco anos, já é mais que tempo de ele te respeitar!
- Mas ele ama-me! Eu sei que ele me ama...
- Isso é um amor doentio, então... Ouve, não achas que está na altura de procurares ajuda?
- E o que é que queres que eu faça? Que o deixe? Que o abandone? Eu sei que ele não pode viver sem mim...
- Tu mereces melhor. Como é que uma pessoa como tu se pode deixar magoar e manipular dessa forma? Um dia ele pode magoar-te a sério. E depois como é que vai ser?
- Que queres... Eu amo-o!...

Após um terrível ataque felino cujos pormenores me vou abster de descrever, não sei se chore por causa dos arranhões, das dores e do inchaço no antebraço; ou se ria, por causa do ridículo que é estar no trabalho com o braço todo pintalgado de betadine... O que vale é que só me dói quando escrevo...


quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

"é pedal, é pedal... tralálálálá..."

Saio de casa em piloto automático. Café, preciso de café... Desço as escadas com trejeitos de malabarista, de bicicleta "a tiracolo". Calço as luvas, enfio o chapéu na cabeça e sinto os primeiros ares da manhã a acariciar-me a cara. Mochila às costas, olho para trás, cautelosa. Não vem nenhum. Crio um impulso, piso o pedal direito, começo o sincronismo corporal que me leva até ao trabalho. Mais adiante cruzo-me com o 15. Vem decorado com luzes e, aos comandos da máquina, um Pai Natal de longas barbas lança um aceno na minha direcção. Tlem! Tlem! Tlem! Sim, é a ti que estou a acenar! Tlem! Tlem! Tlem! Devagar, a mão esquerda larga o volante da bicicleta. E, como se o braço estivesse ligado por linhas invisíveis aos meus lábios, enquanto os dedos respondem ao cumprimento, no meu rosto desenha-se o primeiro sorriso do dia. Não será o maior sorriso do dia, sei-o, mas é, sem dúvida, um dos mais preciosos.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

planeta borboleta

Escreve-se, cru, o verbo sujo
Atira-se com um substantivo
Rasgado na pele. Do peso fujo.
Estamo-nos, tenho-te cativo.
Uma aurora a crescer, boreal
Alimenta os olhares de luz,
E lambemos o suor, sabor carnal
Cegos pelo verbo que nos conduz.
Habita-me, somos um planeta
De rosas e acasos e risos e luas.
Vês, acolá, uma borboleta?
Agarra-a. É para ti. É tua.

mi casa es su casa :)



Já tive três polacos, um alemão, duas japonesas, uma finlandesa e um russo.
Quantos mais, melhor!

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

côdea


foto de SR

Dou-te a côdea, é tua.
Toma-a nas mãos. Come.
Enquanto segredamos à Lua
Aquela que é a nossa fome.
Parte-a em pedaços
Leva-a, quente, à boca.
Sôfregos são os abraços
Vem, que a noite é pouca.
Dou-te a côdea, devora.
Passa devagar ao miolo
Esquece a demora da hora
Dá à tua fome consolo.

domingo, 2 de dezembro de 2007

pai natal à pequim

Chego a casa após um fim-de-semana fora e deparo-me com o seguinte presente: um cartaz com um Pai Natal colado na parede entre o meu apartamento e o da minha vizinha da frente. Este não veio da Lapónia. Por sinal - e a julgar pelos caracteres pequeninos no canto inferior direito - veio directamente da loja de chineses lá da rua.
Se os meus vizinhos gostam de pendurar renas e bonecos de neve nas respectivas portas, fantástico. Eu, na minha porta, só gosto de pendurar as contas que ainda estão por pagar, e do lado de dentro de casa, de preferência.
Que diabo! Não percebo porquê toda esta histeria com o Natal, especialmente, quando ainda falta tanto tempo. Ninguém começa a pendurar coelhos da Páscoa nas portas ou a vender na rua cravos da revolução com três semanas de antecedência, caramba! Felizmente, este ano não tenho de levar com a árvore e a música do "Feliz Navidad" em loop na Praça do Comércio, enquanto espero pelo eléctrico.
Não me interpretem mal. Eu até gosto do Natal... Mas no dia 25 de Dezembro! Pronto, 'tá bem, e na véspera... Mas vai tudo dar ao mesmo. Ou seja, durante 23 dias vou ter de levar com a carantonha barbuda à minha porta. O que me leva a pensar em tomar algumas precauções... Convém não beber muito por estes dias, ou ainda apanho um valente susto ao subir as escdas e começo a dar murros na parede, julgando tratar-se dum ladrão...
Bom, resta-me tentar descobrir quem foi a "gentil" vizinha que teve a "amabilidade" de decorar desta bela forma a entrada de minha casa. E posso sempre devolver o Pai Natal chinês alegando que sou judia e que celebro o Hannuka . Sempre quero ver o que é que me vão depois colar na parede...

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

fónix!!

Muita coisa anda a mudar no sítio onde trabalho. Nem que seja só pintar a fachada, a verdade é que até já se comemoram os aniversários da malta e, quando alguém se vai embora, organizam-se almoços de despedida. Caramba, que até já parece uma empresa daquelas a sério...
Pela primeira vez desde que por aqui ando - e já lá vão oito anos... - vai haver um fim-de-semana de confraternização. Só a palavra "confraternização" aliada ao nome de algumas das pessoas que trabalham comigo já é razão para eu ter urticária... Mas a verdade é que estou ansiosa! Ultimamente ando com um bom-humor e uma queda para a palhaçada tais que estes dois dias prometem muitas barrigadas de riso. A primeira veio logo ao ler o programa do fim-de-semana que aterrou no e-mail...

Sábado

8h.45m - Concentração...

9h – Saída...

11h – Chegada e instalação

11h.30m – Sessão I: Resiliência, Inovação, Sucesso

13h – Almoço

14h.30m – Sessão II: Liderança e Inovação

16h.30 – Intervalo

17h – Sessão III: Team Building

18h.30m – Preparação do jantar (comigo ao comando das operações...)

20h – Jantar

21h. 30m – Serão...

Domingo

Manhã – Passeio...

13h - Almoço

14h.30m - Sessão IV: Pistas para o futuro / ... um projecto com esperança

16h.30m – Partida para Lisboa

18h.30m – Chegada a Lisboa

Mau maria!! Mas então, não há tempo para um concurso de anedotas? Para umas sessões de DVD? Para ver a bola e beber umas jolas? Entre a "resiliência" e o "team building" não há espaço para um jogo de sueca? Para um karaoke com o pessoal? Fónix... Enganaram-me!!!!!!!!!
A verdade é que nada vai ser como dantes após este fim-de-semana. Especialmente porque, antes de saber o programa das festas, até me ofereci para fazer umas massas chinesas no wok para o jantar. Se esta malta me conhecesse de facto, não se atrevia a pôr na boca algo cozinhado por mim... Mas talvez consiga misturar alguns ingredientes secretos na paparoca, de modo a ter o pessoal a dançar em cima das mesas ao final da noite. Sim sim, coleguinha, são oregãos, podes misturar à vontade...
É que eu não vou acordar cedo a um sábado e deixar o meu gato sozinho em casa para levar um "brain wash" organizacional e não tirar nenhum proveito, ora essa!

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

faz-me um pastiche...

Pedalando vai para a Baixa
Luarita na estrada preta
Vai na bisga de bicicleta.

Leva calças largas à frique,
castanhas e com risquinhas,
escondendo as coxas finas
com tanto pano e largura.
Para proteger o cabelo,
boné enfiado na tola
botas próprias de rapazola
pedala com desenvoltura.

Fuge, fuge, Luarita.
Vai na bisga, de binita.

Às costas leva a mochila
sai de casa bem preparada
até deo roll on p'rás axilas
não vá chegar, blarg! suada.

Finta carros com cautela
ou segue pelos passeios
depois mete por ruelas
ignorando os galanteios.
Vai airosa, e com bravura.


Como quem desafia a cidade
mete pelas grandes avenidas
procura as melhores saídas
com sorrisos de felicidade.

Apitando, resmunga o taxista
activado pela rubra cor,
da estrada julga-se senhor
mas ela logo o despista.

Pelas ruas cheias de gente
conta os prédios e assobia
traz o coração contente
e pensa: mas que belo dia!

Entre semáforos ansiosos
já nem percebe, Luarita
se estão os dias luminosos
ou se, com olhos virtuosos
vê a cidade mais bonita.


Fuge, fuge, Luareta.
Vai na bisga, de bicicleta.


Agradecimento especial a Luís de Camões e a António Gedeão.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

arroz...

Ninguém sabe de ti. Mas eu sei.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

refúgio

O cansaço acumula-se, aos poucos, cobrindo a estrutura óssea de uma fina camada, tornando a pele macilenta e os olhos vazios. Exagero. Os escritores gostam sempre de hiperbolizar a realidade. E de inventar verbos também. Pela primeira vez em oito anos ouvi hoje as seguintes palavras: "se calhar era boa ideia planeares o teu trabalho de forma a antecipares as férias que marcaste para o final do ano..." Começo a pensar se estarei mais esgotada do que penso, se as respostas curtas e grossas já não são feitio mas defeito, se o duplicar dos cafés diários será de facto preocupante...
Chego a casa com mil coisas boas e mil coisas más na cabeça. O gato recebe-me, interessado em saber se trago guloseimas no saco. Há tanta coisa em mim por contar. Fecho a porta, silenciosa, e digo "boa noite" às paredes. Elas conhecem-me e acolhem-me. São minhas e eu sou delas. Chego ao meu refúgio, ponho música e afundo-me nos meus pensamentos. Res-pi-ro. Amanhã é outro dia.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

farinha

Ela resmunga, ela barafusta, tem mau feitio e a expressão favorita é "ai a merdinha...". Mas, lá no fundo, tem um coração de manteiga, que eu sei. E é por isso que no passado domingo levou para casa esta bicharoca, apanhada num beco ao pé de casa. "Vem cá ter a casa, arranjei uma gatinha...", dizia o sms. Não querem lá ver? Então uma pessoa sai para um café no Bar das Imagens e, vai na volta, a rapariga arranja uma carga de trabalhos com bigodes?



Ainda o dedo estava a tocar no 1º esquerdo, já o nome me bailava na cabeça: vais chamar-te Farinha. E Farinha ficou. "Pá, vê lá se a apanhas... Ela está debaixo da estante e há bocado fez-me FUUUUU!!" Um palmo de gata parda, de olhar perdido e um miar quase inaudível... "Humpf!! Era mais gira se tivesse olhos verdes! E eu gostava era que fosse cinzenta... Será que posso tingir a gata?" Sim, sim, ela é rezingona, mas não resiste a uma bola de pêlo com bigodes. É tempo de guardar as memórias do Elvis e do Branquinho na gaveta. Agora que tens Farinha na tua vida, só te falta um bocadinho de açúcar...
A tarde foi passada entre a ida ao veterinário - ah pois, aquela barriga grande não é da paparoca, são parasitas mesmo... blargh!! - e as compras para o enxoval da Farinha: comida, comedouro, caixote para areia, areia, etc... Mais uma jornalista com o crédito à habitação a pesar-lhe nos ombros que não resiste a gastar uns valentes euros para salvar uma bicharoca de morrer ao frio. Será que dá para abater estas despesas no IRS?
Bem, o que é certo é que, com tantas andanças, acabámos por colocar a Farinha no saco a tiracolo enquanto fazíamos as compras. Resultado: um xixi que acabou por arruinar tudo o que era papel, para além de impregnar com um belo aroma a carteira e a máquina fotográfica. "Errrr... Dá aí o frasco do álcool..." Belo começo de amizade, hã, Farinha? Melhor que uma gata, só uma gata mi(j)ona!



Não querendo ceder ao preconceito, ó Farinha, é melhor bazares da janela, não vá a família chinesa da frente chamar-te um petisco!! Mi-hau!

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

catarse

Sal nas feridas. Compulsivamente, deitei sal nas feridas para que não sarem nunca. Porque só doendo, numa dor incómoda e lancinante, sei que estou viva e que ainda mexe o verme que me corrói carne e alma.
"Control" é a catarse de um dia emocionalmente intenso. Mau filme para ver quando precisamos de explodir lágrimas. Duas frases. Duas frases apenas fazem-me implodir silenciosamente numa cadeira de cinema.

- When you say things like that it makes me think you don't love me anymore.
- I don't think I do...


Sem controlo. "She's lost control again". E sem controlo as lágrimas fazem-me arder as pupilas. O corpo entra em espasmos e os rostos doutras eras voltam para me assombrar. "Estás bem?", pergunta-me. "Não, não estou. Mas estava a precisar disto... São muitos recalcamentos juntos..." No escuro, o silêncio a preto e branco. Pesado, tão pesado... Não consigo ver mais. Dói. Todas as artérias se tolhem e me apertam. Pára. Pára!! Não dances agora.

Na noite, quero vinho do Porto e bebo o desejo, que tem a forma de um cigarro aceso na tua boca. "She's lost control again".

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

foleirice

Nada como começar um dia de trabalho a ouvir o "Baby Jane" do Rod Stewart...

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

purrrrrrr.....



O meu conceito de acordar com um moreno de olhos verdes em cima de mim mudou drasticamente ao longo dos últimos anos...




terça-feira, 20 de novembro de 2007

abájure retro



Grau de dificuldade:
Fácil

Igredientes:
1 candeeiro com abájure
1 revista antiga
tesoura
cola

Tempo de preparação:
Depende da habilidade e da quantidade de vezes que o seu gato for meter os bigodes no frasco da cola.

Modo de fazer:

Pegue num candeeiro sem graça oferecido por uma amiga há alguns anos. Certifique-se que a amiga não descobre que catalogou o referido candeeiro de “sem graça”.

Folheie as revistas que tem lá por casa, preferencialmente, datadas dos anos 50 ou 60. No caso de não possuir espécimes deste género, espere por terça-feira ou sábado de manhã e dê um pulinho à Feira da Ladra. Aproveite e traga logo um quilo ou dois, que o preço compensa e o passeio vale sempre a pena.

Seleccione um belo naco de revista. Pode aproveitar que está com a mão na massa para combinar os tons com a decoração da divisão onde o candeeiro irá ficar.

Retire o abájure do candeeiro e faça medições para cortar a página da revista à medida. Ou então não: faça simplesmente o contorno mais ou menos a olho, sobrepondo o abájure na página, como foi o caso.

Cole os pedaços de revista que cortou no abájure com cola apropriada – neste caso foi cola de madeira, que era o que estava mais à mão, mas aconselha-se um produto mais adequado, se se quiser dar ao trabalho. Repita a operação até cobrir toda a superfície do abájure. Atenção para não deixar bolhas de ar nem espaços em branco.

Corte umas tiras mais finas de papel para fazer remates tanto no topo como na base.

Depois da cola secar, passe uma ou duas camadas de verniz mate, para uniformizar a superfície e tornar mais fácil a posterior limpeza do abájure.

Deixe secar muito bem antes de voltar a colocar o abájure no candeeiro.

E agora já pode – salvo seja – dar à luz!

luar beirão



esta natureza não está morta.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

vermelho tandoori e amarelo caril? nham!



Há pessoas que não sabem no que se estão a meter quando me pedem uma opinião. Especialmente, no que respeita a pintar paredes. Quem me conhece sabe que a minha casa parece um arco-íris. Durante alguns anos vivi numa casa toda branca e fiquei cansada de paredes frias e estéreis. A cor tranquiliza-me ou espevita-me a alma nos momentos certos. Por isso, qual profeta, não me canso de espalhar a palavra da cor pelas casas onde passo: "esta parede ficava bem pintada de laranja" ou "e já pensaram em verde alface para o vosso quarto?"
Felizmente, alguns dos meus amigos têm tão pouco juízo quanto eu... Salpicar uma casa nova de cor é um projecto aliciante. Ainda que, a meu ver, o casal em questão esteja a ser bastante comedido, confio no bom gosto de ambos (mais o bom gosto dela, ehehe...) para transformar aquele espaço num manjar para os sentidos. Entre "vermelhos tandoori", "laranjas tórridos" e "azuis higiénicos", aquele será o início de um novo projecto de vida. Ah, e não se esqueçam de mim na hora de fazer o stencil!!
Por outro lado, se precisarem de ajuda para as mudanças, não me chamem, que a ciática já anda a manifestar-se... Mas continuem a contar comigo para vos aparecer à porta à hora de jantar, apesar de cada vez se comer pior em vossa casa (por favor!, salsichas e ovos mexidos é o que eu como em minha casa!!). É que não conheço mais ninguém que tenha uma Nespresso... ;)))

and it rained all night*

Acordo com o discreto som de mil gotas de água sobre mim. Chove lá fora. No quente da noite viro-me para o outro lado, para o espaço da tua ausência. Sorrio. Lá fora chove, mesmo por cima de mim. Escondo o meu sorriso no escuro para que seja só meu, apenas meu. Se há um brilho no olhar, guardo-o para mim. A chuva lava as feridas. O sangue escorre pelas ruas e vielas, dilui-se na água que chove. A música cresce-me no peito. Mais e mais. Numa cadência que quase dói. Até eu adormecer com o teu beijo nos lábios. E a voz de veludo nos ouvidos, com as gotas de chuva numa percursão imaginada.

*nos ouvidos: "And It Rained All Night", Thom Yorke

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

são rosas, senhor...

Cresci no meio dos malmequeres, com os cheiros da erva, da caruma e dos fetos entranhados em mim. Flor do campo. Assim sou eu...

"Como um raio a rasgar a vida / Como uma flor a florir desmedida / Como uma cidade secreta a levantar-se do chão / Como água, como pão..."*



Há dias deram-me rosas. Duas. Compradas a um indiano.
Foi tão "kitsch" que bateu cá dentro.

*Excerto de poema de José Luís Peixoto musicado por A Naifa.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Eu quero ter o vento tatuado no meu corpo
A pele lambida pelo sopro da vida



E mesmo depois do desejo morto
Que a caminhada tenha sido sentida.


imagem de "O Castelo Andante" de Hayao Miyazaki

terça-feira, 13 de novembro de 2007

ouvido de passagem

"- ...eu não sei se tu dás quecas ou se fazes amor..."


Dúvida pessoal: não se pode dar quecas com amor?

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

efeito-carrossel



A pior/melhor parte de chegar a casa depois de meia dúzia de Licores Beirões é deitar-me na cama e ver tudo às cores e a andar à roda. Laranja, verde, amarelo, azul... Weeeeeeee!!!!!!!!! Mas que ideia a minha de me armar em hippie...

domingo, 11 de novembro de 2007

"eu quero a rosa rosa..."


Lula Pena

Não sou pessoa de fado. Já me basta aguentar o meu... Mas, por vezes, quando me é dado a ouvir alguém que desconstrói o tradicional e volta a coser a música num engenhoso "patchwork", sustenho a respiração, fecho os olhos e deixo-me levar pela cintura. Aconteceu-me com A Naifa, cujo trabalho tenho acompanhado desde os primeiros rasgões na pele. E acontece-me agora com uma senhora-menina que já anda por cá (e por lá) há alguns anos, mas que só agora tive o prazer (e que prazer!) de conhecer.
Lula Pena, ontem à noite, no Cabaret Maxime, mostrou-me como um "bicho-do-mato" pode ter uma voz imensa e tragicamente aveludada, daquelas que nos arrepiam os pêlos dos braços e nos fazem não desviar os olhos do palco por um segundo que seja. Fado? Aquilo não é fado, é o que ela quiser, quando ela quiser. É Amália e Chico Buarque, é Fausto e Culture Club, em português, francês, inglês ou sotaque brasileiro. Quando a respiração dela se transformou em música, apaixonei-me por Lula Pena.

Adenda:

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

D. Charingo, Coração-de-Atum



É absolutamente ridícula a forma como o meu gato exerce o seu poder sobre mim.

Exemplo nº 1
De madrugada, a horas absurdas, mia como se o mundo fosse acabar. Objectivo: fazer com que eu me levante para lhe abrir a janela e ele poder ir passear para o telhado. Quando já estou quase a cortar os pulsos e desisto de dormir, levanto-me e abro-lhe a janela. E é então que ele, com o ar de desprezo mais odioso que eu já vi, se afasta de rabo alçado e andar gingão, na direcção da cozinha. Tipo: "Estás a ver como eu te faço levantar e agora me vou embora todo contente?..."

Exemplo nº 2
Se, eventualmente, estou numa onda mais masoquista e decido não me levantar, apesar das miadelas insistentes, é certo que vou sofrer represálias. Das duas, uma: ou o bicho vai ter comigo à cama, sentando-se "comodamente" em cima de mim (atenção, que são 6,5 kgs de gato!) até eu deixar de ter sensibilidade nos braços, nas pernas, ou onde quer que ele se tenha sentado; ou então, espertinho como é, salta em direcção à parede, fazendo tabela com as patas traseiras e indo aterrar, literalmente, em cima de mim. É capaz de repetir esta proeza por tempo indefinido, até eu desistir de me proteger debaixo do edredon e das almofadas e, num acesso de raiva momentânea, me levantar de repente e dar um grito de desespero.

Sim, é muito giro ter um gato...

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

eat my dust!

Tenho um sério problema: normalmente, quando ponho uma coisa na cabeça, não descanso até a concretizar. Falo de coisas que dependem de mim, é claro, já que ser bem paga e conhecer o novo homem (ou mulher...) da minha vida estão a demorar mais tempo do que eu pensava... Bom, adiante!!
Sendo uma "urbano-caminheira" inveterada, achei que teria o seu interesse fazer um upgrade e passar a ser uma "urbano-pedaleira". Isto não soa nada bem, é certo, mas significa, basicamente, que comecei a pedalar para chegar ao longe. Após uma semana e tal de viagens matinais e vespertinas de casa para o trabalho e do trabalho para casa, eis um balanço dos prós e contras de andar de bicicleta em Lisboa.


imagem retirada daqui.

Prós
- Não contribuo para o aumento dos níveis de poluição (de qualquer forma, já pouco contribuia, uma vez que me deslocava de eléctrico);
- Poupo o dinheiro do passe mensal;
- Faço exercício físico - não que, com 48 kg precise de emagrecer, mas pelo menos desenferrujo - sem gastar dinheiro em ginásios;
- Apesar de tudo, demoro menos tempo a chegar aos locais, pois finto os engarrafamentos e os semáforos;
- Fico com um ar ainda mais cool!;
- Com sorte, talvez conheça um moço simpático que também goste de andar de bicicleta...

Contras
- Os dias soalheiros têm permitido as viagens de bicicleta. Mas quando começarem as chuvadas, lá terei de apanhar boleia do eléctrico novamente;
- No local de trabalho não há chuveiro, por isso, há que passar a andar com o desodorizante e mais uma t-shirt na mochila, sob pena de me pendurarem do lado de fora da janela para arejar;
- Transportar a "bicla" escadas acima e escadas abaixo no prédio onde vivo tem o seu lado incómodo, especialmente, quando se está a fazer equilibrismo para segurar a "máquina" e fechar a porta e o gato resolve pisgar-se cá para fora;
- A falta de espaço para ciclistas em Lisboa é escandalosa! Ok, isto não é Amesterdão, mas que tal dar um espacinho à malta em locais como, sei lá, a Av. 24 de Julho? Apesar de todas as minhas cautelas, já tive carros a passar a centímentros de mim a alta velocidade. Não preciso de uma ciclovia, só preciso que os automobilistas não façam questão de me atropelar... Até porque eu não valho muitos pontos e é uma chatice depois o asfalto ficar todo sujo.

Posto isto... se virem uma tipa gira de mochila às costas a pedalar por Lisboa, façam o favor de me cumprimentar! :))

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

escrever / rimar



"Tento empurrar-te de cima do poema
para não o estragar na emoção de ti:
olhos semi-cerrados, em precauções de tempo
a sonhá-lo de longe, todo livre sem ti.

Dele ausento os teus olhos, sorriso, boca, olhar:
tudo coisas de ti, mas coisas de partir...
E o meu alarme nasce: e se morreste aí,
no meio de chão sem texto que é ausente de ti?

E se já não respiras? Se eu não te vejo mais
por te querer empurrar, lírica de emoção?
E o meu pânico cresce: se tu não estiveres lá?
E se tu não estiveres onde o poema está?

Faço eroticamente respiração contigo:
primeiro um advérbio, depois um adjectivo,
depois um verso todo em emoção e juras.
E termino contigo em cima do poema,
presente indicativo, artigos às escuras."

poema de Ana Luísa Amaral

terça-feira, 6 de novembro de 2007

o meu reino por uma bola de espelhos!

Admito: há dias em que sou mesmo, mesmo foleira. Isto foi o que vim hoje a ouvir no caminho para o trabalho...

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

frase do mês

"Gosto muito da pessoa que sou."

terça-feira, 30 de outubro de 2007

"há sustos lá dentro"

Saí de lá a lamber feridas. Poucas vezes o teatro me deu um murro no estômago, mas ontem a tareia foi valente. Talvez porque não fosse teatro, mas "perfinst", uma forma híbrida que alia a performance à instalação. Levei bofetadas emocionais e saí a apanhar os cacos de mim que havia deixado cair desde que lá entrei. Penso que as baratas se abarbataram de um ou dois...



Esta imagem não pertence a "Visões Sobre Cemitério de Pianos", uma "perfinst" baseada no imaginário e nas personagens do livro de José Luís Peixoto, que pode ser vista desde ontem no Espaço Karnart*. Mas poderia pertencer. As cores das flores de plástico e os traços sépia dos rostos deixam apenas adivinhar as dores com que se cosem as "Visões..."
Ainda sinto nas narinas o cheiro do petróleo a queimar no candeeiro. Ainda ouço os gritos profundos. Ainda me sinto incomodada pela nudez bruta, pelo sexo, pela descoberta de intimidades obscenas. Ainda sinto vontade de chorar, não por me sentir triste, mas porque a demência crua e o espaço são demasiado avassaladores. Ainda tenho o corpo tolhido pelo vento frio a soprar entre os edifícios. Ainda ecoa algures cá dentro a música antiga, riscada, e o ruído da ventoínha. E o som da caixinha de música, enquanto debaixo da cama repousam despojos humanos. E os risos histéricos. E os pratos antigos nas paredes. E os mortos que vivem, e os vivos que morrem...
Há sustos lá dentro. E uma ternura imensa nas palavras e nas rendas que, sem nos darmos conta, adquirem uma dor que nos perfura até ao mais íntimo de nós. Sentimo-nos violados. Fundimo-nos nas paredes bolorentas e descascadas, para que a nossa presença não seja notada. Mas nós estamos lá, a levar um banho de abandono. Repito-me... saí de lá a lamber feridas.

"Visões Sobre Cemitério de Pianos"
De 29/Out. a 21/Dez., 2ª a 6ª, 19 horas.
Espaço Karnart, Rua da Escola de Medicina Veterinária 21, Lisboa


*Esta será a última peça a decorrer nas instalações da antiga Escola de Medicina Veterinária. Nunca tinha ido ao Espaço Karnart e, da primeira vez que lá entro, recebo a notícia de que o edifício vai ser usado para outros fins. E fico triste. Porque espaços assim há poucos. Muito poucos. As enormes mesas de mármore rosa e antigo, usadas para dissecar corpos de animais noutros tempos, são tão tragicamente belas, as paredes a descascar encerram uma tal carga emotiva, que aqui não se pode fazer outra coisa senão teatro. Mas "Visões Sobre Cemitério de Pianos" é a última actuação nestas salas. Na minha opinião, esta é uma simbiose e um canto de cisne perfeitos.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

caminhos (ronda dos...)

Pedalo pelas calçadas, desvio-me de carros e pessoas. Levo na mochila um cartucho de castanhas. O céu, o azul, o quente do sol na pele. Cantares de aldeia ecoam nos ouvidos. "O cantar à meia-noite / É um cantar diferente / Acorda quem está dormindo / Ai, alegra quem está doente". Há uma melodia em cada esquina, em cada rosto. Assobio. Pedalo. Vivo. Canto. "Tenho tantas saudades / Como folhas tem o trigo / Não as conto a ninguém / Ai, todas hão-de morrer comigo". Respiro. Improviso uma dança. Sou o vento na tarde que sopra.

eros [unknown pleasures]


cemitério dos prazeres, lisboa

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

no palco

"(...) não quero a faca nem o queijo.

Quero a fome."

excerto de poema de Adélia Prado

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

as vinhas, as ruas, as vidas



Lá pela aldeia já se fizeram as vindimas. Da última vez que lá fui trouxe uma sacada de cachos, dos diagais*, que são mais doces... Entretanto, ainda trago "As Vinhas da Ira" na mala, para ler de manhã no eléctrico. A proximidade das imagens é flagrante, pese embora os contextos distintos. Mas o abandono das vidas é o mesmo...

*O nome correcto da casta é "diagalves".

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

bicharoco

O meu pai costuma dizer que "beber água faz rãs na barriga".
Já eu, descobri que o Licor Beirão faz borboletas no estômago...

terça-feira, 23 de outubro de 2007

malditos anos 80!!

Não tenho dúvida alguma sobre a estreita relação entre a progressiva perda de juízo e o facto de se viver sozinho/a. Na intimidade do lar, entre quatro paredes e fora do alcance quer de olhares alheios, quer do julgamento de pessoas que (julgam elas...) nos conhecem bem, a verdade é que se cometem os actos mais tresloucados que se possa imaginar. Viver sozinho/a leva-nos numa lenta caminhada em direcção à loucura. E raramente há retorno...
No meu caso, é o dançar sozinha. Começou há cerca de um ano e nos momentos mais inesperados. Às vezes estou a lavar a loiça do jantar. Outras vezes, a preparar-me para entrar na banheira. Há alturas em que me apanha desprevenida enquanto escrevo no computador. Lentamente, uma melodia, um ritmo, uma vibração entra-me pelo ouvido e aloja-se num pé, que começa a bater no chão; num ombro, que se mexe sem eu dar por isso; no pescoço, que se movimenta de um lado para o outro; ou até numa das mãos, cujos dedos começam a produzir estalidos, acompanhando o som. Conclusão: é mais forte do que eu! Sem aviso, as ancas começam a mexer, arrastadas pela música e, não raras vezes, os braços elevam-se no ar, numa clara tentativa de executar alguns passos de dança exótica. Se não podes vencê-la, junta-te a ela! À música, claro...
E é assim que, volta e meia, faço figuras muito tristes em minha casa. Como uma Ginger Rogers que perdeu o seu Fred Astaire, saltito pelos 45 m2 do apartamento, rodopio uma ou duas vezes antes de bater com o nariz na parede da sala, lanço um braço ao ar, marco o ritmo com os dedos, piso o rabo ao gato e, antes de terminar a música, faço uma pirueta e arrasto-me a coxear para a casa-de-banho em busca de Betadine, pois tenho o gato preso pelos dentes à minha canela...
Ontem foi um desses dias. Pior! Para além da figura solitária a dançar na sala, ontem à noite fui uma figura solitária com insónias a dançar na sala ao som de músicas dos anos 80... daquelas gravadas com grande esforço e dedicação numa K7 Agfa C-DX II Chrom. Há uma atenuante: a K7 não era minha, mas dos meus irmãos, que têm mais uma década que eu em cima dos ombros. Salvei-a, antes que alguma alminha mais inteligente a mandasse para a reciclagem. No tempo em que eu gravava música da rádio, já se ouvia Nirvana lá por casa. Ou ressuscitava preciosidades como The Doors ou Janis Joplin.
Contudo, isso não impede esta triste e foleira realidade: o facto de eu gostar destas músicas. E doutras ainda piores. Mas eu sou uma saudosista. Um coração de manteiga. E não bato bem da cachola, está visto, pois devo ser a única pessoa que conheço que tem, realmente, saudades de dançar slows...


Lado 1
Pepsi & Shirlie – Heartache (Isto está a aquecer...)
Paul Hardcastle – Don’t Waste My Time (Já está melhor. Os dedos estalam, os ombros mexem...)
Survivor – Burning Heart (Esta é boa!! De notar o solozinho de guitarra...)
Cock Robin – Thought You Were On My Side (Um dueto que hoje até poderia ser o genérico de uma novela...)
Stevie Nicks – I Can’t Wait (Dá-lhe!!)
Patti La Belle – On My Own (Hummm, demasiado lamecha até para mim...)
Foreigner – I Want To Know What Love Is (Ideal para karaoke...)
Phil Collins – Separate Lives (Hummm... No me gusta.)
Gerard Joling – In This World (Errrr... Alguém saiu do armário no meio desta música...)
Cutting Crew – I Just Died In You Arms Tonight (Nunca consigo evitar uma lágrimazita ao ouvir esta. Confesso, tinha um fraquinho pelo vocalista...)
Bananarama – I Heard A Rumor (Um braço, outro braço, abana as ancas, huuu, huuu!!!)

Lado 2
Bucks Fizz – New Beginning (Braços no ar!!)
Eddy Grant – Gimme Hope Joanna (‘Tá a saltar e dar ao pé!!!!)
Billy Ocean – Get Out Of My Dreams (Esta tem coreografia...)
Pet Shop Boys – Heart (É a loucura!! Onde é que eu pus aquela bola de espelhos?...)
Dollar – O L’Amour (Hiiii!! Mas que sintetizadores foleiros!!!!...)
Level 42 – Running In The Familly (E não é que ainda me lembro do videoclip desta??)
Level 42 – Lessons In Love (Havia um tipo giro na banda, havia, havia... Era o do falsete.)
Bad Boys Blue – Come Back And Stay (Ui!! Digna de uma boysband...)
Tiffany – I Think We’re Alone Now (Toda a gente a pular!! Faz de conta que é uma aula de step...)
Kim Wilde – You Keep Me Hanging On (Nesta só faço os coros: Uhhhh, uhhhh...)
Bangles – Walk Like An Egyptian (O meu gato está a olhar para mim e a pensar: ‘mas que raio...?’)

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

na bisga!


imagem do vídeo "sound is the place", de minha autoria.

Ontem tive a minha primeira experiência de andar de bicicleta na cidade. Aproveitei que era domingo e estava sol, havia menos trânsito, o tráfego estava cortado nos acessos à Praça do Comércio e tal... Que dia melhor para testar a minha perícia de urbano-ciclista?
Sair de Alcântara e passar para o outro lado da linha do comboio foi o primeiro desafio. Aliás... Minto! O primeiro desafio foi tentar sair do prédio, descendo umas íngremes escadas de madeira, com a bicicleta ao ombro. Mas a decisão de viver num prédio antigo em Lisboa foi minha, por isso... aguenta!
Voltando à linha do comboio... Quero desde já deixar aqui um protesto! Porque é que não há rampas para passar para o lado de lá? Quer seja por uma passagem subterrânea, quer seja por uma passagem aérea, há sempre escadas para descer e subir com a bicicleta às costas. Felizmente sou uma moça previdente e tratei de adquirir uma máquina com quadro de alumínio. Caso contrário, daqui a uns tempos estava com uns bíceps de meter medo...
Mesmo assim, lá ultrapassei esta pequena dificuldade e pedalei tranquilamente até ao Cais do Sodré. Aí chegada, fiz o reconhecimento dos melhores caminhos até ao meu local de trabalho e, depois de umas voltinhas na Praça do Comércio, decidi regressar a casa, pois a fome já apertava.
Acerca do percurso de volta não há nada de especial a assinalar - apenas que decidi seguir pela 24 de Julho e, perto da Av. Infante Santo, como me resolvi armar em esperta e passar um semáforo que transitava suavemente do laranja para o vermelho, ia levando com um carro em cima. Nada que um sorriso culpado e envergonhado na direcção do furioso motorista não resolvesse...
Regressada a casa, toca a subir as escadas com a bicla a reboque. Com tanto sobe e desce, quem é que precisa de ir para o ginásio?!

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

e, no entanto... cose!


Máquina de costura Gritzner, marca alemã do século XIX.


Se alguém precisar de refazer umas bainhas...

literatura de wc



découpage na sapateira da casa-de-banho

Modo de fazer:

1-Apanhar todas as revistas antigas que ainda houver em casa dos pais e/ou avós, especialmente, quando os ditos têm a mania de não pôr nada fora - até é um favor que lhes fazemos.
2-Seleccionar as melhores páginas e calcular a quantidade de papel necessária para cobrir a sapateira.
3-Colar as páginas de uma forma mais ou menos estratégica (usar cola de madeira) cobrindo toda a superfície da peça. Pode haver necessidade de fazer "remendos" mais pequenos.
4-Deixar secar e evitar que o gato vá cheirar o frasco da cola, para não ficar com os bigodes colados.
5-Quando estiver bem seco, passar umas quantas camadas de verniz próprio por cima das colagens. E já está!

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

As lendas do muy ilustre Quarteto 1111

Aqui fica uma sugestão de leitura: "As Lendas do Quarteto 1111", da autoria do meu amigo Toninho, responsável pelo blog de música "Raízes e Antenas".



Esta biografia é um excelente documento acerca da banda que, de certa forma, quebrou barreiras e introduziu em Portugal nuances musicais nunca antes ouvidas. Apesar de não ter vivido a época, diverti-me muito a ler este livro, da mesma forma que me revoltei e me eterneci com as estórias aqui contadas.
A não perder!

Adenda: O Toninho vai estar no programa "Fala Com Ela" (Radar, 97.8) à conversa com Inês Menezes no próximo sábado. E, já agora, a festa de lançamento do livro é na próxima terça-feira (dia 23) no Musicbox, ao Cais do Sodré.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

verbo agir

Ouvi na Radar que anda por aí a circular nos blogs qualquer coisa como o "Blog Action Day", com vista a unir todos os bloggers em torno de um tema, qualquer que seja a sua perspectiva.

Bloggers Unite - Blog Action Day

Uma vez que o tema em causa é o ambiente, aqui vai a minha modesta contribuição:

Não vou gastar muitas palavras em prol do ambiente. Vou mas é passar a ir para o trabalho de bicicleta. Agir, muitas vezes, é bem melhor que escrever.

pormenores sem importância

No sábado comprei caixinhas de metal para a colecção na Feira da Ladra. Também trouxe uma edição velhinha dos "Cem Anos de Solidão" e um número do "Século Ilustrado" com anúncios bem bonitos. Ainda passei pela "Outra Face da Lua" e vim de lá com roupa vintage a 5 euros cada peça. O domingo foi dia de cinema, de concerto inesperado e de uma voltinha de bicicleta junto ao rio ao anoitecer. Sim, sou feliz.

domingo, 14 de outubro de 2007

REM (substância)

As insónias e as noites mal-dormidas sucedem-se. Durmo aos solavancos, com sonhos e personages e pessoas entremeadas nas camadas do subconsciente. Entre estádios de apneia mental e dormência sensorial, recordo (sou invadida brutalmente por...?) a memória de uma ideia para um livro. Uma estória. Começo a escrever, devagar, na página [mente] em branco. Começa a fase REM [Rapid Eye Movement].

terça-feira, 9 de outubro de 2007

(des)conversas

- Então mas diz-me lá, o que é que procuras num homem?
- Pá... Sei lá! Não procuro nada. Não sou muito exigente...
- Isso é o que todas dizem!
- De facto...
- Vamos por partes... O que é que não toleras?
- Hum...
- Então? Por quem é que nunca te apaixonarias? Por um doente da bola? Por um contabilista? Por alguém que cospe para o chão?
- ...Seria incapaz de me apaixonar por alguém que confunde o "à" com o "há"...

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

insónia insane

Como diria o meu amigo Garfield, "mondays suck!" No entanto, esta segunda-feira começou diferente do habitual. As insónias que povoam as minhas noites desde há algum tempo hoje fizeram-me estar completamente desperta às 5h30 da matina. Em vez de forçar o sono por mais duas ou três horas, resolvi levantar-me. E fiz coisas que souberam muito bem, apesar de ser segunda-feira:
- Ouvir o "Apontamento" da Margarida Pinto enquanto tomava banho.
- Tomar o pequeno almoço à janela, a olhar para a lua.
- Apanhar o eléctrico e conseguir sentar-me, porque ia vazio.
- Sair na Praça da Figueira e caminhar lentamente pela rua da Prata, onde não se via um único carro.
- Chegar ao trabalho e a senhora da limpeza olhar para mim com ar espantado: "A esta hora?"
- Observar quem é que, afinal de contas, são as primeiras pessoas a chegar à empresa!

it's all part of the process...

Diz o dicionário da Porto Editora que tenho sempre junto à minha secretária que por fobia se entende "medo patológico, sobretudo pelo carácter obsessivo, de certos objectos, actos ou situações; medo ou aversão impossível de conter".
Sendo uma típica gaja com problemas psicológicos e recalcamentos por resolver, as fobias fazem parte do meu quotidiano. A tal ponto que, por vezes, imagino como deve ser aborrecido viver sem uma ansiedade, uma pontadazinha de pânico, um tremor das pernas e das mãos ou um suor frio a escorrer pelo peito e costas abaixo. Não ter fobias, nos dias de hoje, não pode ser normal.
Na verdade, já tive grandes discussões pouco amigáveis sobre esta questão. Há tempos, um amigo quis fazer-me ver à força toda que ter fobias é um luxo ao qual se podem dar as pessoas que vivem nas sociedades mais desenvolvidas economicamente, sobretudo, nos grandes centros urbanos. Segundo ele, o Ti Manel das Couves, que se levanta com as galinhas para ir sachar o milho, não irá desenvolver qualquer tipo de fobia, pois o seu ritmo de vida, formatado para a subsistência, não lhe deixa margem para alimentar esse género de "paranóias". Em contraponto, quem vive num sistema maquinal - sujeito ao stress, aos apelos ao consumo, à rapidez da vida moderna - quando cumpre as necessidades básicas da pirâmide, começa a criar, na sua própria mente, uma série de problemas que, no fundo, não têm razão de ser, podendo até assumir um carácter absurdo. Ou seja, o meu amigo chamou-me maluca de uma forma mais ou menos "diplomática"...
Pois bem, não sei quem tem razão. E destesto teorizar sobre o assunto. Até porque, quanto mais esgravato na minha psique, mais neurónios avariados eu descubro. O que sei é que há, de facto, muita gente com fobias estranhas, cujo comportamento parece, no mínimo, bizarro. Como o amigo de um amigo que não consegue sentar-se junto a pessoas que não conhece num restaurante ou no cinema. Ou outro que tem uma aversão extrema às maçãs, ao ponto de lhe fazer confusão ver alguém a comer uma. Pois... Eu cá, por exemplo, desde há três anos que prefiro percorrer meia Lisboa de autocarro a meter-me sozinha no metro. Vá-se lá saber porquê, houve alturas em que o pensamento de ficar parada no meio de um túnel era o suficiente para ficar branca como a cal e começar a falhar-me a respiração. Por isso, só andava de metro acompanhada, para ir distraída com a conversa. Claro que não é algo que se possa divulgar a toda a gente, correndo o risco de levar com paternalismos do género "isso não é normal", "tens de forçar-te a andar sozinha", ou a minha preferida: "tens de ir a um psiquiatra!"
Consultas de psiquiatria à parte, nada melhor que deixar o tempo correr, não forçar situações que nos põem pouco à vontade e, aos poucos, ir resolvendo as possíveis causas dos nossos medos. Pelo menos no que a mim me diz respeito, é assim que tem funcionado. Ao ponto de, no passado sábado, em virtude de a SIC ter feito o favor de fechar a Avenida da Liberdade, impossibilitando a circulação de autocarros, lá tive de apanhar o metro para ir ao cinema no Saldanha. Sozinha!
Hesitei, claro que hesitei. Noutras alturas, perante tal dilema, facilmente resolvia o problema indo a pé, já que pernas para andar, felizmente, não me faltam. Contudo, desta vez achei que poderia arriscar. E... o metro não parou, não houve nenhum atentado com gás-pimenta, a luz não foi abaixo, as portas abriram sempre, eu não fiquei ansiosa e a respiração desenvolvia-se normalmente. Mudei de linha tranquila e andei mais duas estações. Nada de terrível aconteceu.
Saí da estação tão orgulhosa de mim mesma que o sorriso parvo na cara ainda permaneceu durante uns largos minutos. Não obstante, ainda prefiro andar de autocarro. Lisboa tem muito mais piada à luz do dia... Por isso é que, ao sair do cinema, fui até casa a pé. Esperem até eu comprar uma bicla. Aí é que vai ser!

sábado, 6 de outubro de 2007

vibrações sonoras

Há dias, quando fazia uma entrevista a uma banda portuguesa, a certa altura, a conversa virou para outros temas que não os últimos trabalhos. Um dos elementos da banda referiu a importância que o nosso nome tem no desenvolvimento da pessoa que somos. Isto porque, defendia ele, ao longo da nossa vida somos constantemente "bombardeados" com as vibrações sonoras que o nosso nome transmite ao ser pronunciado por quem nos rodeia. E isso irá, com toda a certeza, ter um efeito sobre o modo como nos desenvolvemos física e psiquicamente.
Ora, não sendo eu uma pessoa dada a esoterismos - de facto, até sou bastante pragmática na maior parte das minhas acções e sentimentos - não pude deixar de ficar a pensar nisto. Já havia dedicado algum tempo a pensar como certas pessoas parecem ter um nome que lhes assenta que nem uma luva, que seria difícil imaginar certos indivíduos com outro nome que não o seu, o que é, claro está, fruto do hábito e do nível de familiariedade que temos com essas pessoas. No entanto, nunca tinha pensado que a "etiqueta" que nos colocam à nascença pode, de facto, determinar a pessoa em que nos tornamos.
Se isto está provado cientificamente? Provavelmente não. E também não fui perder tempo à procura de estudos que corroborem esta tese. Cá para mim, o tipo da banda até podia estar a alucinar em ácidos, que a mim tanto me faz. A questão é que o tópico me interessou. E porquê? Porque, tal como muita gente por esse país fora, fui "abençoada" com dois nomes: um nome próprio, bem bonito, por sinal (Laura) e um outro nome que, por razões de extremo embaraço, não vou revelar. Nada de anormal até agora, até porque, como toda a gente sabe, o segundo nome não tem outra função senão ser usado quando os nossos pais estão zangados e à beira de nos dar uma valente sova. Nada de anormal, vírgula, não fosse o caso de toda a gente da minha família e da terrinha onde vivi até aos 18 anos, me tratar somente pelo meu segundo nome.
Ou seja, se de facto as vibrações sonoras interferirem na minha psique, esta divisão entre "D. Jekyl" na minha vida quotidiana e "Mr. Hyde" quando vou a casa dos meus pais ou falo com eles ao telefone, só pode ter resultados nefastos no meu equilíbrio mental. Começo finalmente a perceber muita coisa...

terça-feira, 2 de outubro de 2007

aconteceu o que eu mais temia

Transformei-me num estereótipo.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

cobras cuspideiras

Não sou de me impressionar facilmente. Tão pouco faço figura de fraca perante algumas situações menos aprazíveis. Não desmaio quando vejo sangue. Não deixo de fazer análises perante a perspectiva de ter uma agulha espetada no braço. Ir ao dentista, não sendo agradável, não representa um acto de sofrimento. Vivi numa residência de estudantes onde por vezes era necessário deitar para o lixo tupperwares que ameaçavam sair do frigorífico pelos seus próprios pés. Já mudei fraldas a sobrinhos e, diariamente, limpo o caixote do gato, o que é uma chatice, pois apesar do aspecto fofinho, os gatos não vêm interiormente munidos de Brise Contínuo... Resumindo, não há muita coisa que me meta nojo.
Ainda assim, há um acto que, mais do que me causar repulsa, me provoca uma autêntica vontade de vomitar. Não sei porquê, mas acontece. E, vivendo no país em que vivo, já deveria estar mais do que habituada. Mas é escusado. Não consigo. Estar à espera do autocarro ou do eléctrico, descontraidamente, de livro na mão, e mesmo à minha frente alguém passar e mandar uma cuspidela para o chão, é o pior que me podem fazer. Sinto logo o vómito a subir-me pela garganta, uma agonia tremenda, um desejo de desancar o cuspidor (ou cuspideira, que há por aí muita senhora que não se coíbe de mandar a sua cuspidela...).
Ok, talvez eu seja picuínhas. Talvez seja, afinal de contas, impressionável. Mas a minha dúvida permanece: o que é que leva alguém a, em plena rua e perante os incautos transeuntes, sacar de uma bola de cuspo (quando não é algo mais consistente, mas disso já nem vou falar, sob o risco de começar a ficar, eu própria, com uma cor esverdeada...) e, alegremente, fazer pontaria em direcção à rua ou ao passeio? Qual é o grande segredo que reside por detrás deste gesto? Qual é a génese da cuspidela? Qual a motivação subjacente a este hábito de tantos portugueses e portuguesas? A minha dúvida é sincera pois, para mim, cuspir é completamente anti-natural. Eu não preciso de cuspir, a não ser que tenha na boca algo desagradável (espaço agora para trocadilhos mais bardajões relacionados com a prática de sexo oral e quejandos, ahahahah, pronto, agora que já rimos um bocado, voltemos ao que é importante...).
Pesquisando brevemente na Wikipédia, que não é uma fonte muito fiável, mas que para este propósito, até serve, percebo que, de facto, a saliva exerce diversas funções reguladoras no nosso organismo. Sendo assim, qual é a necessidade quase vital e furiosa que tantas pessoas parecem sentir de se livrar desta substância - que, ainda por cima, é essencialmente composta de água? Continuo sem entender...
Acharão, porventura, os praticantes da cuspidela, que os pequenos lagos de cuspo que vão deixando à sua passagem exercem um efeito decorativo? Será que a quantidade de saliva que produzem diariamente atinge dimensões pavlovianas, sendo que têm de se livrar dela a todo o custo? Ou serei eu que não atinjo a dimensão sociológica e antropológica deste acto, que poderá representar um exercício de integração, uma espécie de "diz-me como cospes, dir-te-ei como és, qual o tamanho que calças, quantas vezes te coças em sítios menos próprios e quantas vezes limpaste os ouvidos no último mês..."? I still don't get it.
De qualquer forma, tenho para mim que a minha saliva é demasiado importante para andar a desperdiçá-la pelas ruas da cidade. Para além de ser de extrema utilidade no acto de lamber envelopes - uma prática ancestral que está a cair em desuso com a aparição dos envelopes com fecho autocolante - a minha saliva é uma preciosidade a partilhar apenas em situações especiais que, normalmente, envolvem a saliva de mais alguém... Mas isso agora não é para aqui chamado. O que interessa é que fica aqui um aviso às "cobras cuspideiras" que por aí andam: tenham cuidado com os locais onde cospem, pois eu posso cair-vos em cima!

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

découpage



Ontem à noite o serão foi ocupado a fazer colagens numa sapateira (não o bicho, mas o móvel...). Agora, quem for lá a casa, se estiver com vontade de ir à casa-de-banho, pode deliciar-se com as páginas de anúncios da "Crónica Feminina". Isto sim, é literatura de wc...

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

feira da ladra, 1 euro

Ando a ler "As Vinhas da Ira", do Steinbeck.
Esta parte parece-me apropriada para hoje. E para sempre.

"- Então não faz mais prédicas? - inquiriu Tom.
- Não, não tenciono pregar.
- Nem tenciona baptizar? - perguntou a mãe.
- Não vou baptizar, não. Vou trabalhar nos campos, nos campos verdes e ficar mais perto de toda a gente. Não vou tentar ensinar-lhes nada. Eu é que vou tratar de aprender. Vou saber porque é que os homens andam pelos campos, vou ouvi-los falar e cantar. Vou observar as crianças a comerem papas e os homens e as mulheres moerem os colchões à noite. Vou comer com eles e aprender com eles. - Os seus olhos tornaram-se húmidos e brilhantes. - Vou deitar-me na relva, aberta e honestamente, com quem me queira. Vou gritar e praguejar à vontade e vou ouvir as canções populares. É isto que é sagrado, isto tudo que eu não pude até agora compreender. Isto é que está certo e bem feito
A mãe disse:
- A... mén."

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Broa quente com manteiga

Gosto de voltar à aldeia de onde vim. Por vezes não gosto das pessoas, de ter de falar com as pessoas, mas faz-me falta respirar aquele ar, recordar as memórias de tempos idos, perceber as mudanças, saber quem já morreu, descobrir que traços se perderam e quais permanecem.

Lá, as estrelas brilham tanto nas ruas escuras que percorro de bicicleta. As subidas custam, mas o ar da noite tranquiliza-me. Sei de cor cada pedra, cada buraco na estrada, cada curva e cada esquina. A luz fraca dos candeeiros é rapidamente esquecida pela imensidão deste céu. Encosto a bicicleta ao muro e fico a ouvir os grilos.

Tem já 81 anos, o tio Zé. Penso muitas vezes quando morrerá. A figura pequena e seca, lembro-me dele assim desde sempre. Encostado a um pau nos últimos tempos, mas curtido pelo passar dos anos, das chuvas e dos ventos. Uma raíz seca e resistente no meio do mato. Fala com a sabedoria tranquila de um patriarca, de um ancião a respeitar. Imagino que o frágil corpo se possa quebrar com facilidade enquanto as rugas da cara envolvem um riso alegre de homem do campo. Mas a carne seca está bem rija, como que posta ao fumeiro. Vai um copo de vinho, ó rapariga?

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

ping ping ping

Uma das melhores sensações que se pode ter quando se vive numas águas-furtadas é acordar e ouvir o gotejar delicado da chuva no telhado. É como adormecer e acordar dentro de um poema...

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

"Obrar" em português

O ritual de chegar a casa e abrir a caixa do correio vem, normalmente, acompanhado de um suspiro, ao descobrir mais uma conta para pagar ou, na melhor das hipóteses, os panfletos da Telepizza. Às vezes também encontro cartões e "flyers" com os contactos de pessoas que arranjam tudo, desde estores a esquentadores... Dá sempre jeito, uma vez que, actualmente, a habilidade dos homens que conheço para a bricolage termina no acto de trocar uma lâmpada.
Há dias deparei-me com mais um "flyer". A princípio, nada de suspeito: as obras que a empresa executa, os contactos e a garantia de fazer orçamentos grátis. E até me ri ao ler a frase "somos portugueses". Só uns segundos mais tarde achei estranha aquela afirmação. Somos portugueses? Mas o que é que isso interessa? Fiquei mesmo danada! Comecei a pensar em conceitos como a oferta e a procura e concluí que, se há empresas que exibem no seu cartão de visita o facto de serem cidadãos portugueses, isso só pode significar uma coisa: que há clientes que exigem essa condição para que alguém lhes entre casa adentro. "Um preto ou um ucraniano a mexer-me nas persianas? Era o que faltava!"
E até parece que já estou a ver o Vladimir, de olhos azul céu e cabelo louro espiga, vestido com uma t-shirt da Selecção a dizer "Cristiano Ronaldo" e a cantar o hino nacional numa pronúncia mal disfarçada enquanto atira um pedaço de estuque à parede... "Olhe lá, você é português? Tem a certeza? Ah, claro que deve ser, a cantar o nosso hino assim tão bem... Vamos lá, que eu acompanho-o: Heróis do mar, nobre povo..."
Por esta ordem de ideias, já que nas relações empresa-cliente cada um parece estar a valer-se dos trunfos que tem, mesmo que isso signifique estropiar os direitos humanos, a partir de agora só admito lá em casa electricistas e canalizadores que me tragam o certificado de qualificação profissional, não confundam o "há" com o "à", falem no mínimo três línguas estrangeiras, se pareçam com o Edward Norton, me façam um desconto de 50 por cento na conta da reparação e, antes de sair, me lavem a loiça que tiver ficado do dia anterior. Afinal, o cliente tem sempre razão!

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Désáine



- E aquilo é o quê?
- É um buraco na parede...
- Sim, mas porque tens um buraco na parede?
- Bem, a ideia inicial foi pendurar um quadro, mas...

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Salta-pocinhas

Casa nº 1
A casa paterna, algures na Beira Litoral, paredes meias com paisagens serranas. Uma infância e adolescência passadas no campo com saída aos 18 anos. O quarto está praticamente como o deixei.

Casa nº 2
Um quarto numa residência de estudantes, partilhado com mais duas raparigas. Uma cozinha e 4 frigoríficos para cerca de 80 pessoas. Foi onde descobri que havia pessoas que até alface guardavam no congelador... E também onde aprendi a cozinhar iguarias como arroz com atum e salsicha.

Casa nº 3
Um quarto alugado numa cave em Campo de Ourique. Fiquei apenas seis meses, o suficiente para perceber que me fazia falta a luz solar e descobrir que não convivo bem com ratazanas...

Casa nº 4
Um quarto alugado em Sete Rios, perto do Jardim Zoológico. Era frequente acordar de manhã com a chinfrineira dos macacos e dos elefantes. Assim como com as cantorias da tuna académica da universidade logo ao lado. Acordar com "a mulher gorda, a mim não me convém" às 3 da manhã não é a minha ideia de noite bem dormida. Foi o lar durante um ano...

Casa nº 5
Vida suburbana algures na linha de Sintra num 8º andar partilhado durante três anos e meio. Dos melhores tempos da minha vida.

Casa nº 6
Uma passagem temporária por um apartamento na Amadora. Para esquecer.

Casa nº 7
Uma compra meio apressada, mas completamente justificada. 45 m2 de pura dívida ao banco partilhados com um feroz e gordo gato. Sem ratazanas nem tunas...

Buen camiño!


De vez em quando é bom andar de casa às costas. 2006 foi ano de caminho português de Santiago. Talvez 2008 seja ano de caminho francês. A pé ou de bicicleta. Companhia procura-se.

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Can you see the irony?

- Então e queres fumar uma ganza ou não te apetece?
- Nãã... agora não fumo. Nada de drogas...
- Então?
- Pá, vida saudável, sabes como é... Oh, merda, esqueci-me de tomar os comprimidos!

terça-feira, 11 de setembro de 2007

A piada óbvia

- Então e moras onde mesmo?...
- Debaixo da ponte.
- Ahaha... Não podes estar assim tão mal de finanças. A sério, onde é que moras?
- Já te disse, debaixo da ponte.
- Estás a gozar comigo?
- Não.
- Então e é verdade que caem coisas lá de cima? Pneus, animais e assim?
- (Suspiro...) É, é verdade. Há dias acordei com um São Bernardo a lamber-me os pés...