quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

poetas da madrugada

Entro. Subo e sorrio pelas escadas.
“Podia viver aqui” – digo-me; avanço
em busca de ti nas demais entradas.
Encontro-te: as palavras, o descanso.
“Não jantei ainda. Quero um copo de vinho.”
Paredes, salas imensas, corredores,
perdemo-nos, rimos, inventamos caminho
no humano tráfego, nesta ilha dos amores.
Música, vozes, gravidades: são vinte e uma
as rítmicas em choque simultâneas.
Sensoriais, gente que dança e bebe e fuma
sem ontem ou amanhã: mutações espontâneas.
E a noite cai, de lábios carmim,
Abafado, o som pelo prédio ecoa.
Descubro-te absorto: observas-me assim.
E murmuras: “És a mulher mais bonita de Lisboa.”
“Tenho fome! E o vinho que termina...”
Seguimo-nos pelos corpos tantos,
escapamos aos acenos – Lisboa, moça, menina –
nela nos esquivamos: pelas esquinas, pelos cantos.
Degraus abaixo, cruzamos a porta
penetramos a noite fria de mão dada.
Um beijo, um abraço. E a avenida que é morta
vive agora, em nós, poetas da madrugada.

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