sexta-feira, 28 de setembro de 2007

découpage



Ontem à noite o serão foi ocupado a fazer colagens numa sapateira (não o bicho, mas o móvel...). Agora, quem for lá a casa, se estiver com vontade de ir à casa-de-banho, pode deliciar-se com as páginas de anúncios da "Crónica Feminina". Isto sim, é literatura de wc...

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

feira da ladra, 1 euro

Ando a ler "As Vinhas da Ira", do Steinbeck.
Esta parte parece-me apropriada para hoje. E para sempre.

"- Então não faz mais prédicas? - inquiriu Tom.
- Não, não tenciono pregar.
- Nem tenciona baptizar? - perguntou a mãe.
- Não vou baptizar, não. Vou trabalhar nos campos, nos campos verdes e ficar mais perto de toda a gente. Não vou tentar ensinar-lhes nada. Eu é que vou tratar de aprender. Vou saber porque é que os homens andam pelos campos, vou ouvi-los falar e cantar. Vou observar as crianças a comerem papas e os homens e as mulheres moerem os colchões à noite. Vou comer com eles e aprender com eles. - Os seus olhos tornaram-se húmidos e brilhantes. - Vou deitar-me na relva, aberta e honestamente, com quem me queira. Vou gritar e praguejar à vontade e vou ouvir as canções populares. É isto que é sagrado, isto tudo que eu não pude até agora compreender. Isto é que está certo e bem feito
A mãe disse:
- A... mén."

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Broa quente com manteiga

Gosto de voltar à aldeia de onde vim. Por vezes não gosto das pessoas, de ter de falar com as pessoas, mas faz-me falta respirar aquele ar, recordar as memórias de tempos idos, perceber as mudanças, saber quem já morreu, descobrir que traços se perderam e quais permanecem.

Lá, as estrelas brilham tanto nas ruas escuras que percorro de bicicleta. As subidas custam, mas o ar da noite tranquiliza-me. Sei de cor cada pedra, cada buraco na estrada, cada curva e cada esquina. A luz fraca dos candeeiros é rapidamente esquecida pela imensidão deste céu. Encosto a bicicleta ao muro e fico a ouvir os grilos.

Tem já 81 anos, o tio Zé. Penso muitas vezes quando morrerá. A figura pequena e seca, lembro-me dele assim desde sempre. Encostado a um pau nos últimos tempos, mas curtido pelo passar dos anos, das chuvas e dos ventos. Uma raíz seca e resistente no meio do mato. Fala com a sabedoria tranquila de um patriarca, de um ancião a respeitar. Imagino que o frágil corpo se possa quebrar com facilidade enquanto as rugas da cara envolvem um riso alegre de homem do campo. Mas a carne seca está bem rija, como que posta ao fumeiro. Vai um copo de vinho, ó rapariga?

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

ping ping ping

Uma das melhores sensações que se pode ter quando se vive numas águas-furtadas é acordar e ouvir o gotejar delicado da chuva no telhado. É como adormecer e acordar dentro de um poema...

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

"Obrar" em português

O ritual de chegar a casa e abrir a caixa do correio vem, normalmente, acompanhado de um suspiro, ao descobrir mais uma conta para pagar ou, na melhor das hipóteses, os panfletos da Telepizza. Às vezes também encontro cartões e "flyers" com os contactos de pessoas que arranjam tudo, desde estores a esquentadores... Dá sempre jeito, uma vez que, actualmente, a habilidade dos homens que conheço para a bricolage termina no acto de trocar uma lâmpada.
Há dias deparei-me com mais um "flyer". A princípio, nada de suspeito: as obras que a empresa executa, os contactos e a garantia de fazer orçamentos grátis. E até me ri ao ler a frase "somos portugueses". Só uns segundos mais tarde achei estranha aquela afirmação. Somos portugueses? Mas o que é que isso interessa? Fiquei mesmo danada! Comecei a pensar em conceitos como a oferta e a procura e concluí que, se há empresas que exibem no seu cartão de visita o facto de serem cidadãos portugueses, isso só pode significar uma coisa: que há clientes que exigem essa condição para que alguém lhes entre casa adentro. "Um preto ou um ucraniano a mexer-me nas persianas? Era o que faltava!"
E até parece que já estou a ver o Vladimir, de olhos azul céu e cabelo louro espiga, vestido com uma t-shirt da Selecção a dizer "Cristiano Ronaldo" e a cantar o hino nacional numa pronúncia mal disfarçada enquanto atira um pedaço de estuque à parede... "Olhe lá, você é português? Tem a certeza? Ah, claro que deve ser, a cantar o nosso hino assim tão bem... Vamos lá, que eu acompanho-o: Heróis do mar, nobre povo..."
Por esta ordem de ideias, já que nas relações empresa-cliente cada um parece estar a valer-se dos trunfos que tem, mesmo que isso signifique estropiar os direitos humanos, a partir de agora só admito lá em casa electricistas e canalizadores que me tragam o certificado de qualificação profissional, não confundam o "há" com o "à", falem no mínimo três línguas estrangeiras, se pareçam com o Edward Norton, me façam um desconto de 50 por cento na conta da reparação e, antes de sair, me lavem a loiça que tiver ficado do dia anterior. Afinal, o cliente tem sempre razão!

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Désáine



- E aquilo é o quê?
- É um buraco na parede...
- Sim, mas porque tens um buraco na parede?
- Bem, a ideia inicial foi pendurar um quadro, mas...

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Salta-pocinhas

Casa nº 1
A casa paterna, algures na Beira Litoral, paredes meias com paisagens serranas. Uma infância e adolescência passadas no campo com saída aos 18 anos. O quarto está praticamente como o deixei.

Casa nº 2
Um quarto numa residência de estudantes, partilhado com mais duas raparigas. Uma cozinha e 4 frigoríficos para cerca de 80 pessoas. Foi onde descobri que havia pessoas que até alface guardavam no congelador... E também onde aprendi a cozinhar iguarias como arroz com atum e salsicha.

Casa nº 3
Um quarto alugado numa cave em Campo de Ourique. Fiquei apenas seis meses, o suficiente para perceber que me fazia falta a luz solar e descobrir que não convivo bem com ratazanas...

Casa nº 4
Um quarto alugado em Sete Rios, perto do Jardim Zoológico. Era frequente acordar de manhã com a chinfrineira dos macacos e dos elefantes. Assim como com as cantorias da tuna académica da universidade logo ao lado. Acordar com "a mulher gorda, a mim não me convém" às 3 da manhã não é a minha ideia de noite bem dormida. Foi o lar durante um ano...

Casa nº 5
Vida suburbana algures na linha de Sintra num 8º andar partilhado durante três anos e meio. Dos melhores tempos da minha vida.

Casa nº 6
Uma passagem temporária por um apartamento na Amadora. Para esquecer.

Casa nº 7
Uma compra meio apressada, mas completamente justificada. 45 m2 de pura dívida ao banco partilhados com um feroz e gordo gato. Sem ratazanas nem tunas...

Buen camiño!


De vez em quando é bom andar de casa às costas. 2006 foi ano de caminho português de Santiago. Talvez 2008 seja ano de caminho francês. A pé ou de bicicleta. Companhia procura-se.

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Can you see the irony?

- Então e queres fumar uma ganza ou não te apetece?
- Nãã... agora não fumo. Nada de drogas...
- Então?
- Pá, vida saudável, sabes como é... Oh, merda, esqueci-me de tomar os comprimidos!

terça-feira, 11 de setembro de 2007

A piada óbvia

- Então e moras onde mesmo?...
- Debaixo da ponte.
- Ahaha... Não podes estar assim tão mal de finanças. A sério, onde é que moras?
- Já te disse, debaixo da ponte.
- Estás a gozar comigo?
- Não.
- Então e é verdade que caem coisas lá de cima? Pneus, animais e assim?
- (Suspiro...) É, é verdade. Há dias acordei com um São Bernardo a lamber-me os pés...