domingo, 31 de outubro de 2010

continuidade



A ausência é um vício.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

a mulher que passeia o cão de pijama



YOU ARE HERE

Tive de olhar duas vezes. Juro que tive. Os meus olhos não acreditavam naquela visão em plena tarde de calor e sol a encandear os pensamentos. Era, de facto, um pijama. Branco e salpicado de pequenas flores cor-de-rosa. Tapado por um casaco de malha cinzenta, mas um pijama. Fiquei com a chávena a meio caminho da boca, suspensa numa admiração que se prolongou durante mais tempo do que seria desejável. Quando me apercebi, o café já estava apenas morno.
Domingo à tarde em Alcântara, não se passa muito. As pessoas demoram-se nos cafés, trocam-se dois dedos de conversa, os eléctricos passam de tantos em tantos minutos cheios de turistas em direcção a Belém. Sentada junto à janela grande da pastelaria, volta e meia, os reflexos amarelos do 15 chamavam-me a atenção para a rua, desviando-me das páginas do jornal domingueiro. Foi então que a vi. A mulher apareceu do nada, no outro lado da rua, e passou, tranquilamente para o lado de cá. Segurava uma trela com um cão branco de pêlo encaracolado e ar arrogante que, muito provavelmente, dada a língua rosada pendurada da boca, estava cheio de sede. Teria dado pouca importância às figuras, não fosse o caso de a mulher estar no meio da rua vestida de pijama. Eram três da tarde numa rua movimentada de Alcântara. E ela passeava o cão com um pijama delicadamente florido. Lembrei-de do que a minha amiga Sónia costumava dizer, algo sobre as pessoas decadentes terem cães decadentes. Não era bem o caso. Apesar do ar desengonçado e nada simpático do animal, a mulher atravessou a rua e cruzou-se com os meus olhos com uma pose altiva de quem vestiu a melhor roupa para ir a uma qualquer cerimónia. O cabelo não estava despenteado, os olhos não tinham a aparência de quem acabou de acordar e, apesar de não ter conseguido ver muito bem, podia jurar que lhe brilhava nos lábios um bocadinho de batom. E, com um passo vagaroso e cuidado, seguiu ao longo do passeio, indiferente às cabeças que se iam voltando à sua passagem. Sim, ela estava mesmo de pijama. No meio da rua. E a passear o cão.Percebi, então, que não se tratava de uma distracção, nem de um capricho da mente ou de loucura momentânea provocada pelo calor. A mulher que passou por mim, com a trela esticada e um cão na outra ponta estava, simplesmente a passear os sonhos.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

promete-me que estás


de ti não preciso muito
apenas que me guardes a chave de casa
e saibas soletrar o nome da minha rua.
e que saibas distinguir os meus gatos
pelos bigodes.

sábado, 2 de outubro de 2010

you are here


Uma fanzine sobre Lisboa. Já nasceu.