quarta-feira, 21 de setembro de 2011

e o único gesto que peço
é que me dês a tua mão
na rua
sem vergonha
nem medo.
a tua mão grisalha
de homem.
quatro décadas e mais
uns dedos contados
repetindo mãos
e saltitando de calçada
em calçada.
tirava-te o chapéu.

domingo, 29 de maio de 2011



«Sittin' here resting my bones
And this loneliness won't leave me alone
It's two thousand miles I roamed
Just to make this dock my home»

segunda-feira, 7 de março de 2011


e as asas que cortadas
eram as nossas imaginadas e desenhadas
no escuro, alindadas em sorrisos
das confidências, demências.
deste-me sempre asas para voar, pés
para andar
caminhos para percorrer.
nunca percebeste que me bastava estar
deitada junto a ti
a ouvir-te respirar
e tu com a mão a segurar-me
por baixo do peito e com força
e o teu gemido no meu ouvido.
no escuro doce.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011


antenas
como magriços braços que atentam nos céus
em busca de um auxílio divino
com quatro canais, 20, 50 ou mais.
o musgo cresce lentamente
nos beirais.
e tu descascas-te de mim
como tinta velha
meio agarrada,
meio levada pelos ventos.



quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011


tivesse eu coragem para desistir
e libertar-te.
nunca fui forte
como os malmequeres
que rompem o cimento.
devagar.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011


sabes?, procuro-te em cada gesto matinal e ao fechar do dia
como o vento que me sopra nos cabelos e me despenteia
onde a tua mão, outrora, nos fios emaranhados
tranquilizava.
sabia-te de cor, - eras-me.
nunca fui eu. a dor solene e cabra que se cobra,
de 'nunca' ser uma palavra que demora
tanto tempo a dizer.
e que nunca fica bem dita
mesmo escrita em infindáveis
cadernos quadriculados.
e escrever amor em cadernos quadriculados
está matematicamente errado.
já se sabe.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011


não sei de ti
nem dos teus risos
que esvoaçavam
pela cidade

soltos em minha mão.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

eus


o meu outro eu fugiu-me
e eu fiquei com um eu apenas na algibeira
o eu que deus me deu, apenas eu.
na impossibilidade de fugir, também
para onde está o meu outro eu
aquele que é teu.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011


tenho saudades do amor
e de poder dizê-lo alto
sem que para mim olhem
como o homem do talho
com as mãos
pintadas de sangue.