quarta-feira, 19 de março de 2008

fumo



Era um quarto gasto de pensão. Um ponto esquecido, de paredes poeirentas e um ranger debaixo dos pés... Schhhh!! Ouve... Espera... Não ouço nada... Água, a cair, ping ping, água em caudais inequívocos. Há uma marca de cigarro no tampo da sanita. A janela está aberta, mas cheira a fumo. Sou eu que cheiro a fumo? Ou estará a cidade a arder... Passa-me aí o cinzeiro. Num quarto de uma pensão gasta, onde restam as passagens dos corpos que cá estiveram. É da carne e é do sangue. É dum corpo que se dá, uma oferenda, um sacrifiquemo-nos para ser livres. Era um quarto e era um vulto, sob a luz rasante dum candeeiro fora de moda. Era uma pele gasta, como os anos que nas nuvens galopavam. E cheirava a fumo molhado.

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