segunda-feira, 1 de outubro de 2007

cobras cuspideiras

Não sou de me impressionar facilmente. Tão pouco faço figura de fraca perante algumas situações menos aprazíveis. Não desmaio quando vejo sangue. Não deixo de fazer análises perante a perspectiva de ter uma agulha espetada no braço. Ir ao dentista, não sendo agradável, não representa um acto de sofrimento. Vivi numa residência de estudantes onde por vezes era necessário deitar para o lixo tupperwares que ameaçavam sair do frigorífico pelos seus próprios pés. Já mudei fraldas a sobrinhos e, diariamente, limpo o caixote do gato, o que é uma chatice, pois apesar do aspecto fofinho, os gatos não vêm interiormente munidos de Brise Contínuo... Resumindo, não há muita coisa que me meta nojo.
Ainda assim, há um acto que, mais do que me causar repulsa, me provoca uma autêntica vontade de vomitar. Não sei porquê, mas acontece. E, vivendo no país em que vivo, já deveria estar mais do que habituada. Mas é escusado. Não consigo. Estar à espera do autocarro ou do eléctrico, descontraidamente, de livro na mão, e mesmo à minha frente alguém passar e mandar uma cuspidela para o chão, é o pior que me podem fazer. Sinto logo o vómito a subir-me pela garganta, uma agonia tremenda, um desejo de desancar o cuspidor (ou cuspideira, que há por aí muita senhora que não se coíbe de mandar a sua cuspidela...).
Ok, talvez eu seja picuínhas. Talvez seja, afinal de contas, impressionável. Mas a minha dúvida permanece: o que é que leva alguém a, em plena rua e perante os incautos transeuntes, sacar de uma bola de cuspo (quando não é algo mais consistente, mas disso já nem vou falar, sob o risco de começar a ficar, eu própria, com uma cor esverdeada...) e, alegremente, fazer pontaria em direcção à rua ou ao passeio? Qual é o grande segredo que reside por detrás deste gesto? Qual é a génese da cuspidela? Qual a motivação subjacente a este hábito de tantos portugueses e portuguesas? A minha dúvida é sincera pois, para mim, cuspir é completamente anti-natural. Eu não preciso de cuspir, a não ser que tenha na boca algo desagradável (espaço agora para trocadilhos mais bardajões relacionados com a prática de sexo oral e quejandos, ahahahah, pronto, agora que já rimos um bocado, voltemos ao que é importante...).
Pesquisando brevemente na Wikipédia, que não é uma fonte muito fiável, mas que para este propósito, até serve, percebo que, de facto, a saliva exerce diversas funções reguladoras no nosso organismo. Sendo assim, qual é a necessidade quase vital e furiosa que tantas pessoas parecem sentir de se livrar desta substância - que, ainda por cima, é essencialmente composta de água? Continuo sem entender...
Acharão, porventura, os praticantes da cuspidela, que os pequenos lagos de cuspo que vão deixando à sua passagem exercem um efeito decorativo? Será que a quantidade de saliva que produzem diariamente atinge dimensões pavlovianas, sendo que têm de se livrar dela a todo o custo? Ou serei eu que não atinjo a dimensão sociológica e antropológica deste acto, que poderá representar um exercício de integração, uma espécie de "diz-me como cospes, dir-te-ei como és, qual o tamanho que calças, quantas vezes te coças em sítios menos próprios e quantas vezes limpaste os ouvidos no último mês..."? I still don't get it.
De qualquer forma, tenho para mim que a minha saliva é demasiado importante para andar a desperdiçá-la pelas ruas da cidade. Para além de ser de extrema utilidade no acto de lamber envelopes - uma prática ancestral que está a cair em desuso com a aparição dos envelopes com fecho autocolante - a minha saliva é uma preciosidade a partilhar apenas em situações especiais que, normalmente, envolvem a saliva de mais alguém... Mas isso agora não é para aqui chamado. O que interessa é que fica aqui um aviso às "cobras cuspideiras" que por aí andam: tenham cuidado com os locais onde cospem, pois eu posso cair-vos em cima!

4 comentários:

bolas de sabão disse...

ui, essas criaturas...essas tais cobras...partilho da tua opinião... que venham as venenosas, mas essas que fiquem bem longe :(

MPR disse...

Eh pá... é o nojo global de certos malteses... é de homem cuspir no chão.. macho... é como cheira a cavalo, coçar os tomates e mandar piropos às miudas que passam...

Rantanplan disse...

piropos não. Isso já é uma não conformidade passível de multa. Talvez a cuspidela se arrume numa alínea do mesmo artigo do código civil. Mictar já é proibido faz um tempinho. Só falta integrar a cuspidela nos trâmites da lei. O pior serão as interpretações do decreto: - "cuspir ou salivar?"

laura disse...

bolas de sabão: também não gosto muito das venenosas... mas entre umas e outras, se calhar, as venenosas causam menos repulsa...

mpr: malteses? os gatos? ;) bom, homem que cuspa no chão, cheire a cavalo, coce os tomates e mande piropos é de facto um bom partido... eu é que sou uma gaja com gostos esquisitos ;)

rantanplan: mictar?? tu mictas?? vê-se logo que és da linha, pá!! Quanto a salivar e cuspir, são duas funções completamente diferentes. Eu salivo amiúde e perante muita coisa. Mas não cuspo :)