Estou à beira dos 32 anos. Volta e meia já me engano e digo que tenho 32 em vez de 31, como se, inconscientemente, me estivesse já a mentalizar da idade que terei daqui a dois meses. É uma idade tramada. Não porque esteja, de facto, velha fisicamente, mas porque os 32 marcam toda uma forma de estar e de ser que nem sempre está de acordo com o que nos vai cá dentro. Ainda me falta fazer muito, apesar de já ter vivido tanto. Mas sei que estou a ficar velha quando:
- Me divirto mais num jantar com uma garrafa de Periquita na mesa do que a beber imperiais num bar com gente desconhecida;
- Mais de 70 por cento da conversa do jantar é sobre as contas que é preciso pagar e o dinheiro que não se tem;
- Antes de sair à rua pinto os olhos e passo a noite a chorar porque o lápis me está a fazer alergia;
- Reclamo dos DJ's que passam música no Lounge porque não passam nada que dê para abanar um bocado as ancas;
- Vou parar ao Tokyo no Cais do Sodré e tenho o momento alto da noite a dançar - e a cantar!! - o "
Moonlight Shadow";
- Sei praticamente de cor a
playlist do Tokyo. É praticamente a mesma que o Adam Curry e o Nino Firetto passavam no Music Box na RTP2. E os clientes do Tokyo estão lá mais ou menos desde essa altura;
- Apanho o Night Bus gratuito da Carris e cerca de 90 por cento dos passageiros têm idade para ser meus filhos;
- No caminho para casa, os sapatos mais confortáveis que tenho começam a magoar-me os pés e a deixar entrar água;
- Um rapaz me pergunta se sei onde é que está a acontecer um certa festa trance e eu, além de responder que não faço a mínima ideia, tenho vontade de lhe perguntar se tem idade para estar na rua àquelas horas;
- Ao chegar a casa, apesar de serem 4 da manhã de domingo, inconscientemente, abro a caixa de correio para ver se tenho cartas;
- Respiro de alívio ao tirar os sapatos e ao chegar à minha cama, sabendo que amanhã é domingo e vou poder dormir até tarde, para estar em condições aceitáveis de ir trabalhar na segunda-feira.