"Lembras-te daquela rua
que era minha
e hoje é tua..."
Pega-me no braço com força, como quem só tem o meu braço para se prender ao mundo. De olhos vazios procura o que não sabe em redor, no espaço onde tudo está ausente. Quer ir para o Montijo, precisa de dinheiro para um táxi para o Montijo, desesperadamente, já nada faz ali, naquela rua, naquela casa que deixou, nos braços dum companheiro qualquer... Agarra a mala com mais força ainda e respira fundo, como fazem as grandes senhoras antes duma revelação. Penteia os cabelos, toda ela é grave. Onde é que já vai Luanda, onde é que já vai o Luiz Pacheco, onde é que já vão os filhos, onde é que já vai Bruxelas, tem aí algum número de telefone para onde possamos ligar?, este rapazinho é bisneto do Duque de Palmela, é um bom moço, onde é que já vai a vida longa... esqueceu-se da vida. Eu não tenho ninguém, ninguém, percebe? Mas ia para o Montijo. Mirandela, conhece Mirandela? Qual Trás-os-Montes, Mirandela! Numa boca de lábios finos e secos forma-se a melodia, a tristeza de quem já não sabe se vai, se fica. Ali, ali, eu vou-lhe mostrar onde é que ele está à minha espera, ele está ali!! E foge, foge, larga-me o braço, larga-se do mundo que já não existe há tanto, tanto tempo... Lembras-te daquela rua?
quarta-feira, 9 de janeiro de 2008
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2 comentários:
Saudades de ler-te! :D
:)
Obrigada. É bom saber que há saudades, dá motivação para escrever mais...
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