Jazz em mim.
Escrevo no peito contorno, morno
o epitáfio indelével, letra a letra bordado.
D’entre sépias flores secas, o adorno
dum beijo morto ao nascer, porque dado.
Jazz em mim, assim
numa imagem nascida dum cheiro,
numa dança que os sentidos engane,
escorrega-nos, licoroso, um gole de Coltrane.
Jazzas-me, pois, tão bem, homem inteiro.
E o gotejar e o chover palavra e gesto
em compassos delicados doces de quente.
Abraças-me, ampla, à mulher e ao resto
que na cadência te quer, te olha, te sente.
Jazz...
Assim creio: o teu corpo perece
no desfalecer e pele de nós liberta.
Sou! A terra que agradece
a vinda de ti em luz descoberta.
Jazz em mim. Sim?
Sulca-me de dedos as rugas, fugas
dos corpos nossos já sepultados.
Escavamo-nos. Recusa o ar que ainda sugas
que voz e cântico és, cinza e pós misturados.
Jazz em mim.
Assim.
Suspiros no ouvido em si bemol;
velam-se os mortos no vivo lençol.
Cessa, é finda a música. Schhhh... Devagar...
Não acordes agora. Embalo de repousar...
Jazz em mim. Assim...
Novamente para T., que me percebe e conhece melhor que ninguém. Será sempre dia 14 debaixo da ponte.
terça-feira, 11 de novembro de 2008
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
5 comentários:
nem sei se deveria comentar, é claramente algo de muito pessoal...
mas agora gostas de COLTRANE? boaboa
isso e felicidades...
Era para rimar com «engane»... :P
Há muitoa coisa de que gosto e não divulgo...
(há muita coisa de que gosto e não divulgo...)?
parvoíce... estava só a divagar.
haja parvoíce e divagação... saio deste terreno... talvez até aos sapatos...
boa sorte para logo!!!
Enviar um comentário