quarta-feira, 26 de novembro de 2008

irra!

Ao longo dos três anos em que o percurso do 15 faz parte do meu quotidiano, já não têm conta as vezes em que, a meio da 24 de Julho, a malta tem de abandonar o eléctrico e fazer o resto do percurso a pé, até poder apanhar outro transporte. A razão? Os atropelamentos. Ontem, mais uma vez, uma pobre desgraçada levou com um carro em cima, desta vez, um táxi, na faixa destinada aos transportes públicos.
Normalmente sou muito crítica em relação às pessoas que atravessam a rua sem olhar, que passam a estrada apesar dos sinais vermelhos para os peões, que se "atiram" à frente de comboios por acharem que ainda dá tempo de atravessar... Contudo, neste caso é diferente. Quem conhece ou já tentou fazer o percurso a pé ao longo da 24 de Julho irá perceber a causa de tantos atropelamentos.
Ontem, a cena passou-se um pouco antes do viaduto da Infante Santo. Mas poderia ter acontecido em qualquer outra parte da avenida. A largura dos passeios, tanto ao longo da linha do comboio como no separador central, ou mesmo do outro lado, é, no mínimo, ridícula. Eu, felizmente, até sou magrita e não tenho grandes problemas em me equilibrar num desses "passeios bambos" - que, para ajudar à coisa, ainda têm postes de electricidade plantados no meio - mas acredito que alguém mais anafado não tenha a mesma sorte. Aliás, seria impensável fazer um desses percursos com uma criança pela mão.
Eu sei que, nesta sociedade automobilizada, poucas serão as pessoas que, por alguma necessidade ou loucura momentânea, irão percorrer a Avenida 24 de Julho a pé. Eu já o fiz muitas vezes, umas por gosto de andar a pé, outras por falta de dinheiro para comprar o passe - a crise toca a todos e eu não me chamo Dias Loureiro. Felizmente, nunca fui albaroada por nenhum carro, mas admito que já senti calafrios à passagem de autocarros na bisga. Recomendação: prendam bem os cachecóis, não vá o dito cujo ficar preso a um qualquer espelho retrovisor.
Isto tudo para manifestar a minha irritação quanto à falta de cuidado na planificação urbanística da 24 de Julho, onde o peão é o que menos interessa para o caso. A senhora que ontem estava rodeada de socorristas do INEM, de polícias e de uma multidão de curiosos que aproveitavam a saída forçada dos transportes públicos para "molhar o pãozinho no sangue"? Essa pouco interessará, excepto aos condutores que gostariam de perceber a razão do congestionamento, uma maçada que não permite chegar a tempo ao destino.
Desconheço se a senhora atropelada estava viva, com muitas ou poucas lesões. Não fiquei o tempo suficiente para o saber, até porque estava mais entretida a fazer equilibrismo no passeio que separa as faixas da avenida, em busca de um semáforo onde pudesse atravessar. Só o pude fazer lá muito à frente, onde a 24 de Julho vira para Alcântara. Pelo caminho constatei que, afinal, a ideia dos contentores nem me parece assim tão má. Afinal, Lisboa não é absolutamente nada das pessoas, por isso, mais vale encher tudo de carros, de contentores, de estradas e de túneis, e mandar as pessoas embora daqui. E enquanto penso nisto, o sinal da Avenida de Ceuta está verde para os peões. Atravesso e, por pouco, não levo com um carro em cima. O filho da mãe atravessou o vermelho... Irra!!!!!!!

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