terça-feira, 11 de março de 2008

pão com azeitonas

"Considera-se um marginal?
Eu não me considero coisíssima nenhuma. Considero-me um gajo que está aqui sentado. (...)

[...]

É parecido com o que escreve?
Eu não tenho, creio, grandes dotes de imaginação. A minha fantasia é pobre. Sendo assim, os textos que considero mais conseguidos são autobiográficos. Reportagens de mim. (...)"

[excerto de entrevista a Luiz Pacheco feita por João Pedro George (2005), publicada recentemente em "O Crocodilo Que Voa - Entrevistas a Luiz Pacheco"]


Reportagens de mim. Eis um conceito que gostaria de ter inventado. Já inventei uns quantos conceitos, alguns muito bonitos... Para mim, pelo menos: efemeracidade... foder amor... cheira a ar... Penso: são as coisas simples as mais difíceis de escrever em imagens, de tão profundas e sentidas. Um dia, a meio de uma conversa de trabalho, disse uma coisa que sinto e digo com frequência: "Gosto de palavras..." O meu interlocutor olhou para mim e atirou-me com esta: "Gosto de palavras... Já me fizeste ganhar o dia com essa frase!" Sou, talvez, a pessoa mais humilde que conheço - não, minto, conheço uma ou duas pessoas ainda mais humildes, e tão maiores. Não obstante, sou, seguramente, a pessoa mais insegura que conheço. A repetição verbal é propositada... Aprendi, com os anos de profissão, a gritar de dor sempre que me apercebo de palavras repetidas ou muito semelhantes numa mesma frase. Uma coisa que não aprendi, contudo, foi a lidar com as inseguranças e com o stress. Há dias em que me faltam braços, em que me falta corpo - escrevo, normalmente, em Arial corpo 12, mas, nesta altura, precisava de ser, talvez, uma Century Gothic corpo 72, que é assim uma fonte limpinha e arejada, bem definida, sem arestas para limar e, claro, grande! Há dias em que, perante o silêncio, as ansiedades, o trabalho maior que a alma, a vontade de dormir e os pensamentos em atropelo, apetece é mandar tudo pró caneco, não escrever nem mais uma linha e dedicar-me a comer pão com azeitonas e a beber uns copos valentes. É algo que não implica muito esforço mental e que sabe, precisamente, àquilo que é.

1 comentário:

n. disse...

Humildade (entendida aqui, como me parece ser o que se aplica a ti, como a procura de novos conhecimentos, o desenvolvimento de novas capacidades e competências) e insegurança (entendida como a busca da perfeição) é, em doses certas, uma excelente combinação. Leva, tendencialmente, as pessoas a superarem-se. Pessoalmente, acho que não existe "nada" mais triste que um inseguro arrogante. É alguém que nunca irá evoluir, nem aprender a minorar a sua insegurança... Laura, podes escrever em corpo 12 mas, para quem te lê, parece corpo 72 (e isto só para não ultrapassar o tamanho que referes :) ).