Serve-se o silêncio à mesa
Em travessas regadas de azeite.
Fumegam as couves, a candeia acesa
O frio de nós: um doloroso enfeite.
Os copos de vinho cheios, tinto
No lugar onde abraços deveriam.
Somos poucos e demasiados – sinto
Que paz e amor há muito partiram.
Passa-me as batatas, tu, o bacalhau
O pão já partido, fatias de broa.
“O vinho escorrega bem, não é nada mau!”
E, mal disfarçada, a mágoa de sempre ecoa.
Polvilham-se de açúcar os dizeres
Na esperança (vã) dum Natal sereno.
Desde q’haja comeres e beberes,
As boas festas cospem-se num costume ameno.
São poucos à mesa – tanto faz menos ou mais
Pesado o ar, custa respirar, sufocamos
Presos em memórias de figuras ideais.
Levanta-se a mesa: nós não nos amamos.
quinta-feira, 27 de dezembro de 2007
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