Diz o dicionário da Porto Editora que tenho sempre junto à minha secretária que por fobia se entende "medo patológico, sobretudo pelo carácter obsessivo, de certos objectos, actos ou situações; medo ou aversão impossível de conter".
Sendo uma típica gaja com problemas psicológicos e recalcamentos por resolver, as fobias fazem parte do meu quotidiano. A tal ponto que, por vezes, imagino como deve ser aborrecido viver sem uma ansiedade, uma pontadazinha de pânico, um tremor das pernas e das mãos ou um suor frio a escorrer pelo peito e costas abaixo. Não ter fobias, nos dias de hoje, não pode ser normal.
Na verdade, já tive grandes discussões pouco amigáveis sobre esta questão. Há tempos, um amigo quis fazer-me ver à força toda que ter fobias é um luxo ao qual se podem dar as pessoas que vivem nas sociedades mais desenvolvidas economicamente, sobretudo, nos grandes centros urbanos. Segundo ele, o Ti Manel das Couves, que se levanta com as galinhas para ir sachar o milho, não irá desenvolver qualquer tipo de fobia, pois o seu ritmo de vida, formatado para a subsistência, não lhe deixa margem para alimentar esse género de "paranóias". Em contraponto, quem vive num sistema maquinal - sujeito ao stress, aos apelos ao consumo, à rapidez da vida moderna - quando cumpre as necessidades básicas da pirâmide, começa a criar, na sua própria mente, uma série de problemas que, no fundo, não têm razão de ser, podendo até assumir um carácter absurdo. Ou seja, o meu amigo chamou-me maluca de uma forma mais ou menos "diplomática"...
Pois bem, não sei quem tem razão. E destesto teorizar sobre o assunto. Até porque, quanto mais esgravato na minha psique, mais neurónios avariados eu descubro. O que sei é que há, de facto, muita gente com fobias estranhas, cujo comportamento parece, no mínimo, bizarro. Como o amigo de um amigo que não consegue sentar-se junto a pessoas que não conhece num restaurante ou no cinema. Ou outro que tem uma aversão extrema às maçãs, ao ponto de lhe fazer confusão ver alguém a comer uma. Pois... Eu cá, por exemplo, desde há três anos que prefiro percorrer meia Lisboa de autocarro a meter-me sozinha no metro. Vá-se lá saber porquê, houve alturas em que o pensamento de ficar parada no meio de um túnel era o suficiente para ficar branca como a cal e começar a falhar-me a respiração. Por isso, só andava de metro acompanhada, para ir distraída com a conversa. Claro que não é algo que se possa divulgar a toda a gente, correndo o risco de levar com paternalismos do género "isso não é normal", "tens de forçar-te a andar sozinha", ou a minha preferida: "tens de ir a um psiquiatra!"
Consultas de psiquiatria à parte, nada melhor que deixar o tempo correr, não forçar situações que nos põem pouco à vontade e, aos poucos, ir resolvendo as possíveis causas dos nossos medos. Pelo menos no que a mim me diz respeito, é assim que tem funcionado. Ao ponto de, no passado sábado, em virtude de a SIC ter feito o favor de fechar a Avenida da Liberdade, impossibilitando a circulação de autocarros, lá tive de apanhar o metro para ir ao cinema no Saldanha. Sozinha!
Hesitei, claro que hesitei. Noutras alturas, perante tal dilema, facilmente resolvia o problema indo a pé, já que pernas para andar, felizmente, não me faltam. Contudo, desta vez achei que poderia arriscar. E... o metro não parou, não houve nenhum atentado com gás-pimenta, a luz não foi abaixo, as portas abriram sempre, eu não fiquei ansiosa e a respiração desenvolvia-se normalmente. Mudei de linha tranquila e andei mais duas estações. Nada de terrível aconteceu.
Saí da estação tão orgulhosa de mim mesma que o sorriso parvo na cara ainda permaneceu durante uns largos minutos. Não obstante, ainda prefiro andar de autocarro. Lisboa tem muito mais piada à luz do dia... Por isso é que, ao sair do cinema, fui até casa a pé. Esperem até eu comprar uma bicla. Aí é que vai ser!
segunda-feira, 8 de outubro de 2007
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