Imagem emprestada daqui.
Há muitas coisas que me fazem sentir miserável - pés frios, extractos bancários e ver fotos com a minha cara são algumas delas - mas nada como uma valente constipação para que o meu índice de auto-comiseração atinja o seu pico mais elevado.
Nunca percebo ao certo como apanho constipações. É verdade que nunca uso guarda-chuva, volta e meia apanho com uns pingos de água, não tenho aquecedor em casa e não deixo de ir a lado nenhum só porque está frio. Mas tenho cá para mim que os malditos ares condicionados dos transportes públicos têm alguma a coisa a ver com o meu estado adoentado dos últimos dias... Isso e o senhor desdentado que há dias espirrou para cima de mim no 759.... (esta última parte é ficção, só para a piada, caso contrário, tinha-me auto-imolado logo ali...)
De modo que estou doente desde domingo. A coisa começou com umas arranhadelas na garganta, um pouco como se tivesse engolido um dos meus gatos durante o sono - às vezes durmo de boca aberta, nunca se sabe. Na segunda-feira a tosse veio juntar-se à festa mesmo sem ser convidada e, antecipando outros convivas inesperados - febre, dor de cabeça, mucos vários e uma colossal vontade de cortar os pulsos - tratei de munir-me das drogas necessárias para fazer uma festa privada lá por casa na terça-feira. Ben-u-ron, Mucusolvan, limões, pernas de frango e massa para canja. Consti-party, aí vou eu!!!
Viver sozinha e estar doente é das coisas mais tristes e ridículas deste mundo. Primeiro, porque a vontade de nos levantarmos da cama é nula e o simples facto de escovar os dentes se assemelha ao calhau que o Sísifo tinha de empurrar montanha acima. Em segundo lugar, porque se a constipação não nos mata, ao vermos o nosso reflexo no espelho, de pijama, com o cabelo desgrenhado, o nariz vermelho e a pingar, a cara pálida e cheia de olheiras, desejamos ter uma arma à mão para acabar de vez com a miséria. Em terceiro lugar, porque as pessoas que eventualmente (eu disse eventualmente) nos telefonam para saber de nós desligam assim que ouvem a nossa voz rouca e viril, pensando que se enganaram no número. Por último, porque temos de ser nós próprias a fazer as coisas básicas que garantem a sobrevivência: algo que se assemelhe a comida e chá de limão com mel e um q.b. de aguardente. A ideia de ter um sofá-kitchenette, onde pudesse estar deitada e aceder facilmente ao fogão e ao frigorífico, já me pareceu mais descabida.
Foi duro sobreviver ao dia de ontem. Especialmente porque o comando da televisão avariou e tinha duas opções à minha frente: levantar-me de cada vez que pretendia mudar de canal ou ficar todo o dia a ver reposições de séries de gaja no Fox Life. Sou fraca. Sei de cor as falas da primeira série da Anatomia de Grey e de uns quantos episódios das Donas de Casa Desesperadas.
A vantagem de estar fechada em casa o dia todo a curar uma constipação é... hum... esperem... eu tinha de certeza pensado em qualquer coisa de positivo. Ou se calhar não. Não arrumei a casa, não dobrei a roupa que se empilha vertiginosamente no quarto, não fiz absolutamente nada de produtivo, a não ser estender-me no sofá debaixo de um cobertor a produzir ranhoca e a transpirar sensualidade.
Hoje já estou melhorzinha, obrigada. À excepção do rasto de lenços de papel e da voz viril, estou quase... aaaa... aaaa... aaaatchiiiimmmm!!!!... normal...
Seja lá o que isso for.
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1 comentário:
Admitindo que não deste por falta de nenhum dos teus gatos, penso que terás já afastado a hipótese de ter sido um deles a arranhar-te a garganta... :)
Deve ser mesmo uma constipação... :)
E folgo em saber que estás melhor e que todo esse mal-estar não prejudicou nem o teu excelente sentido de humor, nem a qualidade da tua escrita, sempre excelente.
Agora que estás melhor, espero que não entendas como sarcasmo eu desejar que inicies 2010 da melhor forma... :)
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