quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

atchim!!, ou alguém me traga uma malga de canja por favor. ou uma arma, também serve...

Imagem emprestada daqui.

Há muitas coisas que me fazem sentir miserável - pés frios, extractos bancários e ver fotos com a minha cara são algumas delas - mas nada como uma valente constipação para que o meu índice de auto-comiseração atinja o seu pico mais elevado.

Nunca percebo ao certo como apanho constipações. É verdade que nunca uso guarda-chuva, volta e meia apanho com uns pingos de água, não tenho aquecedor em casa e não deixo de ir a lado nenhum só porque está frio. Mas tenho cá para mim que os malditos ares condicionados dos transportes públicos têm alguma a coisa a ver com o meu estado adoentado dos últimos dias... Isso e o senhor desdentado que há dias espirrou para cima de mim no 759.... (esta última parte é ficção, só para a piada, caso contrário, tinha-me auto-imolado logo ali...)

De modo que estou doente desde domingo. A coisa começou com umas arranhadelas na garganta, um pouco como se tivesse engolido um dos meus gatos durante o sono - às vezes durmo de boca aberta, nunca se sabe. Na segunda-feira a tosse veio juntar-se à festa mesmo sem ser convidada e, antecipando outros convivas inesperados - febre, dor de cabeça, mucos vários e uma colossal vontade de cortar os pulsos - tratei de munir-me das drogas necessárias para fazer uma festa privada lá por casa na terça-feira. Ben-u-ron, Mucusolvan, limões, pernas de frango e massa para canja. Consti-party, aí vou eu!!!

Viver sozinha e estar doente é das coisas mais tristes e ridículas deste mundo. Primeiro, porque a vontade de nos levantarmos da cama é nula e o simples facto de escovar os dentes se assemelha ao calhau que o Sísifo tinha de empurrar montanha acima. Em segundo lugar, porque se a constipação não nos mata, ao vermos o nosso reflexo no espelho, de pijama, com o cabelo desgrenhado, o nariz vermelho e a pingar, a cara pálida e cheia de olheiras, desejamos ter uma arma à mão para acabar de vez com a miséria. Em terceiro lugar, porque as pessoas que eventualmente (eu disse eventualmente) nos telefonam para saber de nós desligam assim que ouvem a nossa voz rouca e viril, pensando que se enganaram no número. Por último, porque temos de ser nós próprias a fazer as coisas básicas que garantem a sobrevivência: algo que se assemelhe a comida e chá de limão com mel e um q.b. de aguardente. A ideia de ter um sofá-kitchenette, onde pudesse estar deitada e aceder facilmente ao fogão e ao frigorífico, já me pareceu mais descabida.

Foi duro sobreviver ao dia de ontem. Especialmente porque o comando da televisão avariou e tinha duas opções à minha frente: levantar-me de cada vez que pretendia mudar de canal ou ficar todo o dia a ver reposições de séries de gaja no Fox Life. Sou fraca. Sei de cor as falas da primeira série da Anatomia de Grey e de uns quantos episódios das Donas de Casa Desesperadas.

A vantagem de estar fechada em casa o dia todo a curar uma constipação é... hum... esperem... eu tinha de certeza pensado em qualquer coisa de positivo. Ou se calhar não. Não arrumei a casa, não dobrei a roupa que se empilha vertiginosamente no quarto, não fiz absolutamente nada de produtivo, a não ser estender-me no sofá debaixo de um cobertor a produzir ranhoca e a transpirar sensualidade.

Hoje já estou melhorzinha, obrigada. À excepção do rasto de lenços de papel e da voz viril, estou quase... aaaa... aaaa... aaaatchiiiimmmm!!!!... normal...
Seja lá o que isso for.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

há precisamente dez anos...

- Vivia num quarto alugado numa cave em Campo de Ourique.
- Tomei a decisão de ficar em Lisboa a trabalhar.
- Fiquei sem namorado por causa da decisão anterior.
- Identificava as zonas de Lisboa segundo as cores das linhas do Metro.
- Sabia de cor as letras de "O Monstro Precisa de Amigos".
- Arrumei de vez a carta de condução (dinheiro desperdiçado).
- Fiz as minhas primeiras entrevistas dignas desse nome, à Elisabete Jacinto e aos The Gift.
- Escrevia 90 por cento de cartas e 10 por cento de e-mails.
- Vi "The Straight Story" do David Lynch na companhia de um amigo que só daí a um ano seria muito mais.
- Estava ansiosa para ver o que ia acontecer com o bug Y2K.
- Usava saltos altos com muito mais frequência.
- Andava com disquetes na mala.
- Deram-me o meu primeiro telemóvel, porque tinha o hábito de ir de viagem e nunca ligar a dizer que estava viva.
- A minha memória era muito melhor que actualmente...

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

sol de inverno

Não gosto do Natal. Desde que o meu avô materno morreu, no Natal de 2001 (nunca conheci o meu avô paterno), toda a cerimónia, que já não me dizia muito, deixou de ter importância. Apesar de a família nunca ter sido muito chegada, a morte do homem que está em grande plano na foto, de peito cheio e cabeça erguida, marcou a ruptura de qualquer coisa ténue que nos unia.



O Natal deixou há muito de ser alegre para se tornar um aglomerado de dias saudosistas, frios e infindáveis. O facto de ter aderido ao ateísmo p'rai à segunda aula de catequese também não ajuda muito ao espírito natalício, é certo.

Isto tudo para dizer que hoje de manhã, depois de ter acordado com um sol de Inverno magnífico, apanhei o primeiro autocarro do dia, onde um senhor trauteava alegremente uma canção de Natal. Alguns passageiros riam, outros cochichavam, outros ignoravam. Quando chegou à paragem onde iria sair, o senhor da canção mudou de cantilena e trauteou, com uma voz suave e feliz, qualquer coisa como "haja sol para animar o dia..." E saiu. E eu fui o resto da viagem a sorrir. Obrigada.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

frases míticas e trágicas da adolescência...

"Posso-te conhecer?"

"Já tocou p'ra dentro?"

"Posso escrever-te? Dá-me a tua morada..."

"Pá, tens de voltar a gravar-me o Unplugged dos Nirvana porque o meu leitor enrolou-me a fita toda..."

"Vou à papelaria comprar o Blitz."

"Empresta-me aí 500 paus..."

"Diz ao XXX que estou a fumar atrás do pavilhão."

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

gps para a vida




Texto escrito e publicado no extinto blog "Passa aí o Lexotan" a 13 de Julho de 2005. Agora que caminho para os 32, o GPS faz mais falta que nunca...


Imagem daqui.




- Bom dia, vinha fazer uma reclamação...
- Diga.
- Esta vida que adquiri há 27 anos e alguns meses está estragada. Está cheia de buracos, verte água por todos os poros, não sabe caminhar na direcção certa e não sabe estar sozinha. Esta vida não me serve.
- Fez uso indevido desta vida. Manipulou-a de forma inadequada?
- Bem... o que entende por uso indevido?
- Álcool, tabaco, drogas, sexo, frio ou calor extremos... Além das lágrimas, que são do pior. Enferrujam...
- Já percebi. Uso indevido, portanto... Então, o facto de estar dentro da garantia não me vale de muito...
- Pois, receio que não. Como quer ter uma vida em bom estado se não sabe como cuidar dela?
- Mas de que me serve ter uma vida se é para ficar na prateleira?
- Quando adquiriu esta vida já sabia dos cuidados a ter em conta...
- Não, por acaso não. A vida foi-me oferecida.
- Então e não a avisaram?
- Hum... Pois... Não. Mas diga-me lá... Isto tem conserto?
- Para remediar, pode pôr uns pensos rápidos aqui e ali. Sempre vai vedando qualquer coisa. E se quiser que a sua vida caminhe na direcção certa, podemos montar-lhe um sistema de GPS.
- E isso funciona?
- Bom, sempre fica mais barato do que trocar de vida...
- Então que venha lá esse GPS!

"...e morar na casca de um ovo sem ter cabido na cova de um dente..."


domingo, 13 de dezembro de 2009

ouve-se hoje neste t1 #19


O novo trabalho de Samuel Úria, "Nem Lhe Tocava". Estou rendida ao dengoso e trágico "Não Arrastes o Meu Caixão". Gosto da palavra "sevícias"...

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

tantos gatos, tantos gatos...



A minha vizinha do lado adoptou dois gatos que, aposto, têm uma inveja enorme dos meus, que podem pôr os bigodes ao sol e catrapiscar os pombos que pousam no telhado. Estou em crer que a cortina rasgada não aconteceu por acaso...

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

dez argumentos infalíveis para persuadir os donos dos cafés a deixarem-nos usar o wc dos respectivos estabelecimentos

Imagem emprestada daqui.
Sou, como direi, uma rapariga com bexiga de passarinho. Como pedestre que sou, nas minhas andanças fora de casa é frequente acontecer-me a bexiga dar sinal e, à falta da minha simpática casa-de-banho onde há sempre papel higiénico e revistas diversas, se estiver mesmo aflitinha, procuro um café ou restaurante onde, em princípio, não irei apanhar gripe A, uma infecção urinária ou pé de atleta. É um desafio interessante, digo-vos desde já... Não raramente dou por mim a pensar que o Homem já conquistou tanto, mas ainda não conseguiu, com tanto avanço científico, criar um mecanismo que nos deixe ir satisfazer este género de necessidades apenas quando nos der jeito. Adiante...
Hoje aconteceu-me um chichi inadiável ali para os lados dos Restauradores. Tendo tempo nas mãos decidi entrar num desses Magnólias caffes - com dois ff, que tem mais pedigree - com a intenção de satisfazer a minha necessidade fisiológica e, depois, beber um chá (lá está, temos de repor os líquidos em falta). Dirigi-me ao wc, cuja porta ostentava de forma gritante uma placa dando conta de que o uso dos lavabos era exclusivo dos clientes do café. Perante uma porta trancada, dirigi-me ao balcão para pedir a chave. Diálogo com a menina do balcão:
- Boa tarde. É possível dar-me a chave da casa-de-banho, por favor?
- Ahhhh... A casa-de-banho é só para clientes...
- Sim, tudo bem... Mas posso primeiro ir à casa-de-banho e ser cliente a seguir?
- Ahhhh...
Não muito convencida, a menina lá me deu a chave. E sim, a seguir lá bebi o meu cházinho e comecei a pensar seriamente na crueldade que é negar o uso de uma casa-de-banho a uma pessoa aflita. No mínimo desumano!
Por isso, aqui fica uma lista de estratégias para persuadir os donos e empregados dos estabelecimentos comerciais em momentos de aflição, evitando ter de comprar uma água ou uma pastilha bubbalicious apenas para se ganhar o estatuto de "cliente".

1. (Entrar a correr com ar ofegante) Rápido!!! Não há tempo a perder!!!!!! Sou o Super-Homem e neste preciso momento há um asteróide em risco de chocar com a Terra. Irão morrer milhões de pessoas e alguns pombos se eu não for já ao wc trocar de identidade e vestir o meu maiô de gosto duvidoso!!!!!!!!

2. Boa tarde. Estou praticamente a dar à luz e preciso de um sítio reservado para ter esta criança e uivar de dor enquanto ela me rasga as entranhas. Onde é o wc? Quantos rolos de papel tem na arrecadação?

3. Saudações! Venho do ano 3074 e o portal espacio-temporal que me levará de regresso encontra-se na sanita do seu wc e irá fechar-se dentro de 30 segundos. Preciso de dar já o salto ou ficarei para sempre presa no corpo desta jornalista solteira de 32 anos que trabalha a recibos verdes. Por favor, deixe-me voltar para 3074!! Por favor!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

4. Se não me deixar usar o seu wc vou ficar aqui ao seu lado todo o dia a dizer piadas extremamente parvas. Olhe para mim!! Eu NÃO estou a brincar!!

5. Ora viva! Sou fiscal da ASAE e venho verificar se a quantidade de WC Pato na água da sanita está de acordo com as normas legais. Não tente impedir-me, é pior para si.

6. Ouvi dizer que no wc do seu café há uma parede com uma uma mancha de humidade que parece mesmo, mesmo, mesmo o José Cid. Posso ir tirar uma fotografia com o meu telemóvel? Prometo que a seguir lhe mostro a foto que tirei ontem a um pastel de nata igualzinho ao Cristiano Ronaldo!

7. Há um grupo no Facebook que elogia grandemente os lavabos deste café. Importa-se que eu dê uma espreitadela? É que já me tornei fã e cliquei no "like" em todos os meus amigos que aderiram.

8. Paizinho!!! Não me reconhece? Sou a sua filha desaparecida há 25 anos... Temos mesmo de pôr a conversa em dia!! Mas entretanto, com tanta emoção, já devo ter borrado a maquilhagem. Deixe-me só ir ali ao wc que já venho ter consigo...

9. Olá!! Sou do "Querido Mudei a Casa" e você foi contemplado com uma remodelação do wc! Não é o máximo?? Tenho só que tirar umas medidas... para o novo mobiliário, sim, sim, isso mesmo...

10. Errr... (cof! cof!) Desculpe... Eu estive aqui de manhã a dar à luz na sua casa-de-banho e tenho a impressão que me esqueci do miúdo no lavatório... Importa-se que... É só um instantinho, com licença...

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

artigos na edição de novembro da dif

Textos de minha autoria na edição de Novembro da revista DIF.
A edição online está disponível em www.difmag.com.


Pela sala fora
Estamos em crer que, se a dimensão da casa o permitisse, muita gente teria no quarto ou na sala a sua mota ou carro de estimação. Não chegando a esse extremo, a reciclagem de partes de motas – Vespas e Lambrettas –, de carros antigos – Cadillacs, Mustangs ou Chevrolets – ou mesmo de modernas bicicletas, permite decorar o lar doce lar com pinta de Easy Rider. Se não puderes ser um cowboy do asfalto sê, pelo menos, um cowboy da alcatifa. [...]




Robert Bradford: Toys Art Us
Descobrir as esculturas de Robert Bradford é ter a sensação de que houve um enorme acidente doméstico envolvendo a mascote lá de casa, uma lata de cola e as caixas de bugigangas que estavam guardadas na despensa. Através de um trabalho minucioso, o artista britânico desafia-nos a fazer zoom in e a perceber com quantos soldadinhos de plástico se faz um basset hound. [...]




Milton Glaser - I ♥ NY

Milton Glaser é um vulto maior do design gráfico e da ilustração norte-americanos. Foi ele quem desenhou o famoso logótipo I ♥ NY, uma imagem que, 34 anos depois, é um dos ícones mais reconhecidos a nível mundial. Nesta edição da DIF em que se desvendam os segredos da Big Apple falámos com Milton Glaser para saber como é possível amar tanto uma cidade. [...]