IPOD BATTLES
Hang the DJ?!
Na década de 80, os The Smiths apelavam, numa deliciosa melodia, a que se pusesse fogo à discoteca e se enforcasse o DJ. «Because the music that they constantly play / It says nothing to me about my life», justificava a letra. Certo é que, se por essa altura o vídeo matou a ‘radiostar’, as iPod battles, um novo fenómeno que começa agora a invadir as pistas de dança, transformam qualquer Zé Ninguém no rei da festa. Basta um leitor de mp3, muitos gigas de música e alguma criatividade. Depois, o público é quem mais ordena.
Finalmente, um desafio à altura do pessoal que, nos autocarros, comboios e afins, gosta de ir a curtir o seu som. Se a ideia é partilhar com os demais passageiros a ‘play list’ do telemóvel ou leitor de mp3, porque não fazê-lo num local apropriado, em contexto de verdadeiro duelo musical? As iPod battles são isso mesmo: uma forma de combate entre aspirantes a DJ, onde as reacções do público determinam o vencedor.
O conceito surgiu num clube nocturno de Paris, há cerca de dois anos, como estratégia de animação da clientela. Entretanto, o fenómeno espalhou-se por (quase) todo o mundo. A ideia base das iPod battles é simples: averiguar quem tem melhor critério de selecção musical, utilizando as faixas contidas no leitor de mp3 pessoal. Liga-se o equipamento ao sistema de som da discoteca e… ganha a equipa que conseguir levar a multidão à loucura!
Com direito a ringue e tudo
Mas a coisa tem alguns pormenores ainda mais requintados. Para já, a acção tem lugar num ringue. Lá em cima as equipas competem alternadamente, com cinco faixas cada uma, respondendo aos adversários. Depois de cada ‘round’, os apupos, assobios e aplausos são analisados pelo ‘árbitro’ com um aparelho medidor de decibéis.
Logicamente, ganha quem retirar mais entusiasmo da multidão. Tal pode ser conseguido com os êxitos do momento, mas também com os temas mais foleiros que se possa imaginar. Normalmente, são estes últimos que causam maior furor.
Por cá, as iPod battles ainda não deram um ar da sua graça. Mas não deve demorar muito.
«Hey, Mr. DJ…»
Hoje em dia, tirando alguns resistentes, não há praticamente gato-pingado que não tenha um leitor de mp3. Daí que, com a globalização das iPod battles, o sonho de ser DJ e levar o pessoal da pista ao rubro esteja, cada vez mais, ao alcance de cada um. Mas será que esta ‘democratização’
musical irá ditar a morte do DJ? Certamente que não. Contudo, fomos ouvir alguns especialistas na matéria, para saber se se sentem ameaçados.
Para Pedro Miguel, identidade real do leiriense DJ Schmeichael, é normal que o fenómeno tenha uma aceitação crescente a nível mundial. «As pessoas gostam de se sentir como parte de algo», explica. Refere, porém, que «o princípio não é novo». «Talvez não a esta escala, mas, habitualmente, um DJ que passe pop rock, sucessos que costumam dar na rádio, recebe vários pedidos musicais por parte dos clientes ao longo da sessão. A não ser que seja um DJ famoso com o estatuto de quase ‘rock star’, cuja selecção musical ninguém ousa questionar.»
Opinião semelhante tem António Pires, jornalista e DJ de ‘world music’ sempre que se proporciona. «O conceito tem imensa piada!», começa por mencionar. «Mas não é completamente original: os ‘sound systems’ jamaicanos dos anos 50 e 60, em Kingston, competiam entre si para chamar mais gentes às suas festas e, assim, angariar mais dinheiro, o mesmo se passando com os trios eléctricos no Brasil. Para além de que a ideia tem igualmente óbvios pontos de contacto com as ‘batalhas’ de MC do hip-hop...» Apesar disso, confirma a originalidade do fenómeno, pelo facto de dar oportunidade a DJ amadores e dar uma utilização colectiva ao iPod. «Agrada-me a transposição do ‘do it yourself’ para o espaço das discotecas...»
O fim do DJ?
Da mesma forma, Pedro Ramos, integrante do ‘movimento’ AmorFúria e «alternador de discos», nas palavras do próprio, vê a ideia das iPod battles «com muito interesse». Na perspectiva do “Almirante” Ramos, são «um fenómeno que tem tendência a ficar e expandir-se e relembram-me muito a maneira como eu próprio comecei a alternar discos, a partilha do meu gosto pessoal com mais gente e em ‘directo’».
Desconhecedor de encontros semelhantes a nível nacional, Vítor Junqueira, elemento do colectivo ‘Bailarico Sofisticado’, considera «natural» o surgimento das iPod battles. «Os meios e contextos actuais só podem ajudar a que se produza este tipo de acontecimentos. Deixam de haver, até certo ponto, as principais limitações que obrigavam a que houvesse uma pessoa contratada, um especialista para passar discos.» Faz, desta forma, um paralelo com o passado: «Antes, só podia ser DJ quem investisse bastante em conhecimento na sua área. Hoje, a Internet é uma porta escancarada para a informação. Antes, só podia ser DJ quem investisse bastante na aquisição dos discos ou batesse à porta das editoras ou fosse jornalista ou radialista. Hoje, qualquer miúdo consegue obter colecções imensas de discos enquanto um diabo esfrega o olho.»
A democratização está aí, e mais vale juntarmo-nos a ela do que tentar combatê-la. «Hoje temos mais gente apta a dar música aos outros. Acrescente-se a isso uma componente de concurso, acrescente-se também a poupança em ‘cachets’ por parte do promotor e temos mais um par de razões óbvias para que estas batalhas surjam.» Vítor Junqueira vai ainda mais além. «Salvaguardadas as devidas diferenças, as batalhas de iPods estão para os antigos DJ como os wikipedias e youtubes e outros fenómenos da web 2.0 estão para as produções centralizadas de conteúdos...»
Não mata, mas mói
Não obstante, a figura do DJ profissional está ainda longe de desaparecer.
Pedro 'Almirante' Ramos salienta que as iPod battles podem ser vistas como a «emancipação dos DJ», já que estão ao alcance de qualquer um. «Claro que depois há a técnica de misturar e de alinhar um bom ‘set’, mas isso vem com o tempo e com a experiência.»
Já nas palavras de Vítor Junqueira, «talvez não mate, mas mói, ainda que simbolicamente». Diz o ‘bailariqueiro’: «Naturalmente que haverá sempre o lugar dos especialistas. Mas aquela franja que está imediatamente abaixo dos especialistas e que nunca foi capaz de assegurar uma posição de prestígio e de confiança vai, com toda a naturalidade, ser absorvida pela multidão, pelos miúdos que são livres de aparecer com os seus iPods e divertir os outros. Como se pretende, aliás.»
Também o DJ Schmeichael considera inabalável o estatuto do DJ. «Será certamente um sucesso em determinados nichos de mercado, mas não creio que se globalize a grande escala. O DJ ainda é visto como um divulgador que passa horas a pesquisar, à procura de novidades.» E, fazendo a ponte com a canção dos The Smiths, assegura que, quando saem à noite, as pessoas querem é divertir-se e não comandar as operações. «Penso que a música apocalíptica que apregoava aos sete ventos, ‘hang the dj’, ainda não é uma realidade.»
Por sua vez, António Pires, que trabalha há cerca de 20 anos em jornalismo musical, acredita que se assiste a uma importante mudança. «O Brian Eno dizia que para se ser um bom DJ basta ter bom gosto e uma boa colecção de discos e eu concordo completamente com ele. E pode fazer-se um paralelo entre este fenómeno e o que aconteceu com o punk – quando pessoas que não sabiam tocar nem cantar invadiram os palcos... Ainda bem!»
Onde é que posso entrar numa iPod battle?
Em Portugal ainda não se conhecem encontros deste género. Mas podes sempre dar um pulinho a um destes países:
- França
- Inglaterra
- Estados Unidos
- Japão
- Brasil
- Canadá
O conceito surgiu num clube nocturno de Paris, há cerca de dois anos, como estratégia de animação da clientela. Entretanto, o fenómeno espalhou-se por (quase) todo o mundo. A ideia base das iPod battles é simples: averiguar quem tem melhor critério de selecção musical, utilizando as faixas contidas no leitor de mp3 pessoal. Liga-se o equipamento ao sistema de som da discoteca e… ganha a equipa que conseguir levar a multidão à loucura!
Com direito a ringue e tudo
Mas a coisa tem alguns pormenores ainda mais requintados. Para já, a acção tem lugar num ringue. Lá em cima as equipas competem alternadamente, com cinco faixas cada uma, respondendo aos adversários. Depois de cada ‘round’, os apupos, assobios e aplausos são analisados pelo ‘árbitro’ com um aparelho medidor de decibéis.
Logicamente, ganha quem retirar mais entusiasmo da multidão. Tal pode ser conseguido com os êxitos do momento, mas também com os temas mais foleiros que se possa imaginar. Normalmente, são estes últimos que causam maior furor.
Por cá, as iPod battles ainda não deram um ar da sua graça. Mas não deve demorar muito.
«Hey, Mr. DJ…»
Hoje em dia, tirando alguns resistentes, não há praticamente gato-pingado que não tenha um leitor de mp3. Daí que, com a globalização das iPod battles, o sonho de ser DJ e levar o pessoal da pista ao rubro esteja, cada vez mais, ao alcance de cada um. Mas será que esta ‘democratização’
musical irá ditar a morte do DJ? Certamente que não. Contudo, fomos ouvir alguns especialistas na matéria, para saber se se sentem ameaçados.
Para Pedro Miguel, identidade real do leiriense DJ Schmeichael, é normal que o fenómeno tenha uma aceitação crescente a nível mundial. «As pessoas gostam de se sentir como parte de algo», explica. Refere, porém, que «o princípio não é novo». «Talvez não a esta escala, mas, habitualmente, um DJ que passe pop rock, sucessos que costumam dar na rádio, recebe vários pedidos musicais por parte dos clientes ao longo da sessão. A não ser que seja um DJ famoso com o estatuto de quase ‘rock star’, cuja selecção musical ninguém ousa questionar.»
Opinião semelhante tem António Pires, jornalista e DJ de ‘world music’ sempre que se proporciona. «O conceito tem imensa piada!», começa por mencionar. «Mas não é completamente original: os ‘sound systems’ jamaicanos dos anos 50 e 60, em Kingston, competiam entre si para chamar mais gentes às suas festas e, assim, angariar mais dinheiro, o mesmo se passando com os trios eléctricos no Brasil. Para além de que a ideia tem igualmente óbvios pontos de contacto com as ‘batalhas’ de MC do hip-hop...» Apesar disso, confirma a originalidade do fenómeno, pelo facto de dar oportunidade a DJ amadores e dar uma utilização colectiva ao iPod. «Agrada-me a transposição do ‘do it yourself’ para o espaço das discotecas...»
O fim do DJ?
Da mesma forma, Pedro Ramos, integrante do ‘movimento’ AmorFúria e «alternador de discos», nas palavras do próprio, vê a ideia das iPod battles «com muito interesse». Na perspectiva do “Almirante” Ramos, são «um fenómeno que tem tendência a ficar e expandir-se e relembram-me muito a maneira como eu próprio comecei a alternar discos, a partilha do meu gosto pessoal com mais gente e em ‘directo’».
Desconhecedor de encontros semelhantes a nível nacional, Vítor Junqueira, elemento do colectivo ‘Bailarico Sofisticado’, considera «natural» o surgimento das iPod battles. «Os meios e contextos actuais só podem ajudar a que se produza este tipo de acontecimentos. Deixam de haver, até certo ponto, as principais limitações que obrigavam a que houvesse uma pessoa contratada, um especialista para passar discos.» Faz, desta forma, um paralelo com o passado: «Antes, só podia ser DJ quem investisse bastante em conhecimento na sua área. Hoje, a Internet é uma porta escancarada para a informação. Antes, só podia ser DJ quem investisse bastante na aquisição dos discos ou batesse à porta das editoras ou fosse jornalista ou radialista. Hoje, qualquer miúdo consegue obter colecções imensas de discos enquanto um diabo esfrega o olho.»
A democratização está aí, e mais vale juntarmo-nos a ela do que tentar combatê-la. «Hoje temos mais gente apta a dar música aos outros. Acrescente-se a isso uma componente de concurso, acrescente-se também a poupança em ‘cachets’ por parte do promotor e temos mais um par de razões óbvias para que estas batalhas surjam.» Vítor Junqueira vai ainda mais além. «Salvaguardadas as devidas diferenças, as batalhas de iPods estão para os antigos DJ como os wikipedias e youtubes e outros fenómenos da web 2.0 estão para as produções centralizadas de conteúdos...»
Não mata, mas mói
Não obstante, a figura do DJ profissional está ainda longe de desaparecer.
Pedro 'Almirante' Ramos salienta que as iPod battles podem ser vistas como a «emancipação dos DJ», já que estão ao alcance de qualquer um. «Claro que depois há a técnica de misturar e de alinhar um bom ‘set’, mas isso vem com o tempo e com a experiência.»
Já nas palavras de Vítor Junqueira, «talvez não mate, mas mói, ainda que simbolicamente». Diz o ‘bailariqueiro’: «Naturalmente que haverá sempre o lugar dos especialistas. Mas aquela franja que está imediatamente abaixo dos especialistas e que nunca foi capaz de assegurar uma posição de prestígio e de confiança vai, com toda a naturalidade, ser absorvida pela multidão, pelos miúdos que são livres de aparecer com os seus iPods e divertir os outros. Como se pretende, aliás.»
Também o DJ Schmeichael considera inabalável o estatuto do DJ. «Será certamente um sucesso em determinados nichos de mercado, mas não creio que se globalize a grande escala. O DJ ainda é visto como um divulgador que passa horas a pesquisar, à procura de novidades.» E, fazendo a ponte com a canção dos The Smiths, assegura que, quando saem à noite, as pessoas querem é divertir-se e não comandar as operações. «Penso que a música apocalíptica que apregoava aos sete ventos, ‘hang the dj’, ainda não é uma realidade.»
Por sua vez, António Pires, que trabalha há cerca de 20 anos em jornalismo musical, acredita que se assiste a uma importante mudança. «O Brian Eno dizia que para se ser um bom DJ basta ter bom gosto e uma boa colecção de discos e eu concordo completamente com ele. E pode fazer-se um paralelo entre este fenómeno e o que aconteceu com o punk – quando pessoas que não sabiam tocar nem cantar invadiram os palcos... Ainda bem!»
Regras das iPod battles [Grita, que eu gosto!]
1 – Oito equipas, compostas por duas ou três pessoas cada uma, carregam os seus iPods com os ritmos mais alucinantes, batidas contagiantes e, quem sabe, uma ou outra faixa mais inesperada.
2 – Duas a duas, as equipas competem entre si, ligando os seus leitores ao sistema de som da discoteca, com o objectivo de obter o máximo de reacções de quem está na pista de dança.
3 – Cada equipa passa cinco faixas de cada vez, em alternância. No entanto, só podem passar 1m30 de cada tema, pelo que há duas opções: voltar posteriormente a essa faixa ou, então, fazer uma pré-edição com as melhores partes da música.
4 – A equipa vencedora de cada ‘round’ é escolhida pela histeria do público. Como? Através de um medidor de decibéis. Ou seja, o sucesso de cada equipa de DJ traduz-se na quantidade de gritos, aplausos e assobios que arrancam da multidão.
2 – Duas a duas, as equipas competem entre si, ligando os seus leitores ao sistema de som da discoteca, com o objectivo de obter o máximo de reacções de quem está na pista de dança.
3 – Cada equipa passa cinco faixas de cada vez, em alternância. No entanto, só podem passar 1m30 de cada tema, pelo que há duas opções: voltar posteriormente a essa faixa ou, então, fazer uma pré-edição com as melhores partes da música.
4 – A equipa vencedora de cada ‘round’ é escolhida pela histeria do público. Como? Através de um medidor de decibéis. Ou seja, o sucesso de cada equipa de DJ traduz-se na quantidade de gritos, aplausos e assobios que arrancam da multidão.
Onde é que posso entrar numa iPod battle?
Em Portugal ainda não se conhecem encontros deste género. Mas podes sempre dar um pulinho a um destes países:
- França
- Inglaterra
- Estados Unidos
- Japão
- Brasil
- Canadá
1 comentário:
participei... há pouco... num disco em que um dos elementos (MEEEEEEEESTRE), tocou apenas com um iphone... dá concertos com o pequeno objecto, pelos vistos musical... anda com o instrumento no bolso... confortável... e soooooooooooa
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