O ritual de chegar a casa e abrir a caixa do correio vem, normalmente, acompanhado de um suspiro, ao descobrir mais uma conta para pagar ou, na melhor das hipóteses, os panfletos da Telepizza. Às vezes também encontro cartões e "flyers" com os contactos de pessoas que arranjam tudo, desde estores a esquentadores... Dá sempre jeito, uma vez que, actualmente, a habilidade dos homens que conheço para a bricolage termina no acto de trocar uma lâmpada.
Há dias deparei-me com mais um "flyer". A princípio, nada de suspeito: as obras que a empresa executa, os contactos e a garantia de fazer orçamentos grátis. E até me ri ao ler a frase "somos portugueses". Só uns segundos mais tarde achei estranha aquela afirmação. Somos portugueses? Mas o que é que isso interessa? Fiquei mesmo danada! Comecei a pensar em conceitos como a oferta e a procura e concluí que, se há empresas que exibem no seu cartão de visita o facto de serem cidadãos portugueses, isso só pode significar uma coisa: que há clientes que exigem essa condição para que alguém lhes entre casa adentro. "Um preto ou um ucraniano a mexer-me nas persianas? Era o que faltava!"
E até parece que já estou a ver o Vladimir, de olhos azul céu e cabelo louro espiga, vestido com uma t-shirt da Selecção a dizer "Cristiano Ronaldo" e a cantar o hino nacional numa pronúncia mal disfarçada enquanto atira um pedaço de estuque à parede... "Olhe lá, você é português? Tem a certeza? Ah, claro que deve ser, a cantar o nosso hino assim tão bem... Vamos lá, que eu acompanho-o: Heróis do mar, nobre povo..."
Por esta ordem de ideias, já que nas relações empresa-cliente cada um parece estar a valer-se dos trunfos que tem, mesmo que isso signifique estropiar os direitos humanos, a partir de agora só admito lá em casa electricistas e canalizadores que me tragam o certificado de qualificação profissional, não confundam o "há" com o "à", falem no mínimo três línguas estrangeiras, se pareçam com o Edward Norton, me façam um desconto de 50 por cento na conta da reparação e, antes de sair, me lavem a loiça que tiver ficado do dia anterior. Afinal, o cliente tem sempre razão!
quinta-feira, 20 de setembro de 2007
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3 comentários:
O Edward Norton? não havia melhorzito para escolher? é que não estou a ver esse gajo com charme para meter uns ladrilhos em tua casa.
achei que o Johnny Depp não tinha arcaboiço, lol
Eu cá só quero operários da Nova Zelândia... amanhem-se!
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