Gosto de voltar à aldeia de onde vim. Por vezes não gosto das pessoas, de ter de falar com as pessoas, mas faz-me falta respirar aquele ar, recordar as memórias de tempos idos, perceber as mudanças, saber quem já morreu, descobrir que traços se perderam e quais permanecem.
Lá, as estrelas brilham tanto nas ruas escuras que percorro de bicicleta. As subidas custam, mas o ar da noite tranquiliza-me. Sei de cor cada pedra, cada buraco na estrada, cada curva e cada esquina. A luz fraca dos candeeiros é rapidamente esquecida pela imensidão deste céu. Encosto a bicicleta ao muro e fico a ouvir os grilos.
Tem já 81 anos, o tio Zé. Penso muitas vezes quando morrerá. A figura pequena e seca, lembro-me dele assim desde sempre. Encostado a um pau nos últimos tempos, mas curtido pelo passar dos anos, das chuvas e dos ventos. Uma raíz seca e resistente no meio do mato. Fala com a sabedoria tranquila de um patriarca, de um ancião a respeitar. Imagino que o frágil corpo se possa quebrar com facilidade enquanto as rugas da cara envolvem um riso alegre de homem do campo. Mas a carne seca está bem rija, como que posta ao fumeiro. Vai um copo de vinho, ó rapariga?
segunda-feira, 24 de setembro de 2007
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2 comentários:
Espero que a tua resposta seja sempre: sim!!! :)
António: Como é óbvio! :) Seria rude recusar e é sempre uma alegria ver o ar de satisfação do ti Zé (e da ti Fernanda, que me abraça como se fosse sua filha...)
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