quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
rendilhados
Às vezes acordava assim, embrulhada em papel de parede e suspensa num sorriso rendilhado de quem gosta de pormenores pequeninos e memórias quentes. Não precisava de espreitar pela porta, em direcção à janela oriental, para adivinhar a dança luminosa a entrar pelas vidraças. Um dia de cada vez, olhos estremunhados, pé ante pé e nariz frio, dedos encolhidos e saltinhos desequilibrados no chão de tábuas corridas. As folhas dos limoeiros cantam do lado de fora, em verdes de todas as cores e em melodias assobiadas pelo vento. Acordava e aquecia as mãos numa caneca de café negro e fumegante. O dia chegaria.
terça-feira, 19 de janeiro de 2010
mikado
encontrei no fundo da gaveta
um velho jogo de mikado
e lembrei-me
que tinha para te dar
um recado.
mas fechei a gaveta
e deixei-o
lá guardado.
quando voltei
a buscá-lo
o recado
tinha-se evaporado.
um velho jogo de mikado
e lembrei-me
que tinha para te dar
um recado.
mas fechei a gaveta
e deixei-o
lá guardado.
quando voltei
a buscá-lo
o recado
tinha-se evaporado.
domingo, 17 de janeiro de 2010
Gasosa convida-me :)
gasosa convida #31
Uma música ideal
De todas as músicas e estilos e álbuns e artistas e bandas que até hoje me foram dadas a conhecer, não há melodia que me apele tanto aos sentidos como a chuva em Alcântara. Perdão, como a chuva a tamborilar no meu telhado em Alcântara. Porque é a melodia no seu estado mais puro, um compor de poesia que, normalmente, me apanha desprevenida, completamente permeável e livre de filtros.
A chuva a bater, forte, no telhado das minhas águas-furtadas é a derradeira percussão. De forma inconsciente, os meus dedos escorrem pela parede, acompanhando o som grave da chuva que cai por cima de mim. Começo a fazer música, a preencher os silêncios, a entrar no jogo sonoro das gotas.
Percebo, então, que a música ideal existe. Aqui. Na minha cidade ideal. Seja ela imaginada, ou não. Basta-me fechar os olhos e dar um salto.
Em 2007 participei, juntamente com o amigo Naked Lunch, num desafio lançado pela associação Alkantara e pela ZDB. A ideia era partilhar visões sobre o que seria uma Lisboa ideal.
Nunca tendo antes pegado numa câmara de vídeo com um objectivo concreto, meti mãos à obra, escrevi um argumento, sonhei com imagens e “casei” as minhas visões com as visões sonoras do Naked Lunch. A música foi elaborada com base em descrições das cenas, antes mesmo de elas serem filmadas e editadas. Ou seja, houve uma tentativa de recriar determinados ambientes, mas os sons não foram, de facto, "colados" às imagens.
Chamámos à coisa “Sound Is The Place”, com a tónica nos lugares imaginários para onde gostaríamos que o som nos transportasse, e que não existem senão de forma sensorial na nossa mente e corpo. Este é um vídeo sobre uma Lisboa que gostaríamos de ter, sobre a busca de uma tranquilidade na cidade que nos acolhe, quer nela vivamos, quer estejamos de passagem.
E a chuva continua a cair. E a música continua, pura. Poc… poc… plim…
Laura Alves
www.umt1debaixodaponte.blogspot.com | www.difmag.com | www.myspace.com/maizine
Uma música ideal
De todas as músicas e estilos e álbuns e artistas e bandas que até hoje me foram dadas a conhecer, não há melodia que me apele tanto aos sentidos como a chuva em Alcântara. Perdão, como a chuva a tamborilar no meu telhado em Alcântara. Porque é a melodia no seu estado mais puro, um compor de poesia que, normalmente, me apanha desprevenida, completamente permeável e livre de filtros.
A chuva a bater, forte, no telhado das minhas águas-furtadas é a derradeira percussão. De forma inconsciente, os meus dedos escorrem pela parede, acompanhando o som grave da chuva que cai por cima de mim. Começo a fazer música, a preencher os silêncios, a entrar no jogo sonoro das gotas.
Percebo, então, que a música ideal existe. Aqui. Na minha cidade ideal. Seja ela imaginada, ou não. Basta-me fechar os olhos e dar um salto.
Em 2007 participei, juntamente com o amigo Naked Lunch, num desafio lançado pela associação Alkantara e pela ZDB. A ideia era partilhar visões sobre o que seria uma Lisboa ideal.
Nunca tendo antes pegado numa câmara de vídeo com um objectivo concreto, meti mãos à obra, escrevi um argumento, sonhei com imagens e “casei” as minhas visões com as visões sonoras do Naked Lunch. A música foi elaborada com base em descrições das cenas, antes mesmo de elas serem filmadas e editadas. Ou seja, houve uma tentativa de recriar determinados ambientes, mas os sons não foram, de facto, "colados" às imagens.
Chamámos à coisa “Sound Is The Place”, com a tónica nos lugares imaginários para onde gostaríamos que o som nos transportasse, e que não existem senão de forma sensorial na nossa mente e corpo. Este é um vídeo sobre uma Lisboa que gostaríamos de ter, sobre a busca de uma tranquilidade na cidade que nos acolhe, quer nela vivamos, quer estejamos de passagem.
E a chuva continua a cair. E a música continua, pura. Poc… poc… plim…
Laura Alves
www.umt1debaixodaponte.blogspot.com | www.difmag.com | www.myspace.com/maizine
segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
ouve-se hoje neste t1 #20
A banda sonora de "Where The Wild Things Are" - por Karen O, dos Yeah Yeah Yeahs - é pura e vertiginosa, simples e quente, sorridente e delirante. O tema "All is Love" dá-me ganas de ir a correr pelos pinhais, correr e correr de braços abertos, empurrada pelo vento e com os arbustos a raspar-me a cara, correr e correr, cair, esfolar os joelhos, levantar-me, correr ainda mais como um desenho animado e parar, enfim, numa clareira, abrir muito os olhos e ficar especada a ver uma chuvada a vir na minha direcção. E rodopiar de braços abertos. E gritar. Gritar muito!!!!!!!!!!!
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
...
"Menina, não chore", disse o homem sem respeito, mas compreensão, pela dor que se espalhava sobre a mesa. "Estou desempregado há mês e meio..." Mas eu não o quero ouvir, vá-se embora, grito para dentro de mim, vá-se embora! "Eu é que tenho razões para chorar, estou desempregado há mês e meio... Não me arranja umas moedinhas para comer qualquer coisa?"
Homem, por amor de Deus, vá-se embora, que a minha vida está a afogar-se no fundo deste copo de cerveja... Leve as moedas, mas vá-se embora...
E choramos ambos.
Homem, por amor de Deus, vá-se embora, que a minha vida está a afogar-se no fundo deste copo de cerveja... Leve as moedas, mas vá-se embora...
E choramos ambos.
quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
o meu joelho não pára de dar estalos e ainda falta meia hora e um litro de suor para este inferno terminar
Cartoon de Maitena
Fugir.
É exactamente o verbo que ecoa na minha cabeça assim que a porta da sala se fecha e a música dispara adrenalina por encomenda. Não é um filme de terror. É uma aula de body pump, o que é muito, mas muito pior...
Vamos por partes. Exceptuando andar a pé ou de bicicleta, detesto fazer desporto. O meu corpo não foi talhado para grandes agitações ou esforços físicos que não aconteçam na privacidade do lar e de luz apagada.
Cometi, portanto, a heresia de me inscrever num ginásio há uns meses porque me aconteceu ter mais de 30 anos e, em virtude disso, ter sido contagiada com a doença que afecta 90 por cento das mulheres de todo o mundo: a ilusão de estar gorda. Eu que durante anos vesti o 34 e me queixava de nunca encontrar roupa que me assentasse bem - poucas curvas, pouco peito, pouca vontade de fazer compras... - de repente dei por mim a vestir o 36. O 36!!!!! Obesa, no mínimo!!!
De maneira que acabo de sair de mais uma aula de body pump - depois de 15 dias em que bolo-reis mais fortes se levantaram - e estou a pensar que cortar as banhas com uma faca seria uma solução mais rápida e menos dolorosa. É verdade que já perdi 3 ou 4 kgs, mas a que custo?
Para quem não está familiarizado com o body pump, imagine um ritual com mecanismos de tortura medievais e banda sonora de Bon Jovi e Brian Adams. Remixados. Lá à frente temos o carrasco - agora dizem que são personal trainers, mas é dar-lhes um machado e um capuz preto, a ver se o instinto assassino não volta a vir ao de cima... - que para além de carregar no play, dando início ao martírio sonoro, levanta a barra de pesos tão facilmente como eu levanto garrafas de Licor Beirão. Se eu podia levantar tanto peso como ele? Podia, mas as minhas costas não seriam a mesma coisa.
Bom, sejamos justos.. O problema nem é o peso. O problema é o que ele nos obriga a fazer com o peso, com os braços, com as pernas e com o rabo. As posições são dignas do Kama Sutra, mas os indianos foram espertos em ficar apenas com a parte boa da coisa... E se alguém, por acaso, ouvir os meus joelhos a estalar, isso chama-se velhice, não caixa-de-ritmos.
Na verdade não sei qual é a força demoníaca que me move na direcção do ginásio. Faz doer, saio da aula a cheirar mal e com tonturas, com os músculos a latejar e ainda por cima esfomeada. Um encanto de pessoa, portanto. E o verbo "fugir" continua a parecer-me tããão apetecível...
Fugir.
É exactamente o verbo que ecoa na minha cabeça assim que a porta da sala se fecha e a música dispara adrenalina por encomenda. Não é um filme de terror. É uma aula de body pump, o que é muito, mas muito pior...
Vamos por partes. Exceptuando andar a pé ou de bicicleta, detesto fazer desporto. O meu corpo não foi talhado para grandes agitações ou esforços físicos que não aconteçam na privacidade do lar e de luz apagada.
Cometi, portanto, a heresia de me inscrever num ginásio há uns meses porque me aconteceu ter mais de 30 anos e, em virtude disso, ter sido contagiada com a doença que afecta 90 por cento das mulheres de todo o mundo: a ilusão de estar gorda. Eu que durante anos vesti o 34 e me queixava de nunca encontrar roupa que me assentasse bem - poucas curvas, pouco peito, pouca vontade de fazer compras... - de repente dei por mim a vestir o 36. O 36!!!!! Obesa, no mínimo!!!
De maneira que acabo de sair de mais uma aula de body pump - depois de 15 dias em que bolo-reis mais fortes se levantaram - e estou a pensar que cortar as banhas com uma faca seria uma solução mais rápida e menos dolorosa. É verdade que já perdi 3 ou 4 kgs, mas a que custo?
Para quem não está familiarizado com o body pump, imagine um ritual com mecanismos de tortura medievais e banda sonora de Bon Jovi e Brian Adams. Remixados. Lá à frente temos o carrasco - agora dizem que são personal trainers, mas é dar-lhes um machado e um capuz preto, a ver se o instinto assassino não volta a vir ao de cima... - que para além de carregar no play, dando início ao martírio sonoro, levanta a barra de pesos tão facilmente como eu levanto garrafas de Licor Beirão. Se eu podia levantar tanto peso como ele? Podia, mas as minhas costas não seriam a mesma coisa.
Bom, sejamos justos.. O problema nem é o peso. O problema é o que ele nos obriga a fazer com o peso, com os braços, com as pernas e com o rabo. As posições são dignas do Kama Sutra, mas os indianos foram espertos em ficar apenas com a parte boa da coisa... E se alguém, por acaso, ouvir os meus joelhos a estalar, isso chama-se velhice, não caixa-de-ritmos.
Na verdade não sei qual é a força demoníaca que me move na direcção do ginásio. Faz doer, saio da aula a cheirar mal e com tonturas, com os músculos a latejar e ainda por cima esfomeada. Um encanto de pessoa, portanto. E o verbo "fugir" continua a parecer-me tããão apetecível...
sábado, 2 de janeiro de 2010
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