É muito triste. É triste que um espaço que tenha estado anos e anos abandonado, só se torne cobiçado quando alguém o ocupa. Durante os muitos anos em que trabalhei na Rua da Madalena fui acompanhando as várias fases do Mercado do Chão do Loureiro, mesmo em frente do Bar das Imagens e do café Verdeperto, como quem vai para a Costa do Castelo. Acompanhei a degradação; acompanhei a abertura pontual para um bailarico durante os Santos Populares; acompanhei o (julgo) sem-abrigo que transformou uma parte do edifício na sua casa, coleccionando todo o género de traquitanas; acompanhei a progressiva abertura do terraço do mercado ao público com pequenas feiras de artesanato e produtos de agricultura biológica; acompanhei a abertura da esplanada, primeiro tímida, depois já com sofás e espalhando-se sem reservas por toda a extensão do terraço. Estive lá há umas noites, a olhar para as luzes da cidade e a sorrir com as fiadas de lâmpadas coloridas a fazer lembrar os bailes de aldeia. Passei lá algumas tardes de livro na mão. Está-se lá bem. Muito bem. E é muito triste ler coisas destas. Mais uma vez, compromete-se a qualidade de vida, em prol de uma "qualidade" com acesso reservado só para alguns. Há dias em que me custa muito ser portuguesa e semi-lisboeta.
Notícia do Público
Melhor esplanada de Lisboa com os dias contados, segue-se "restaurante de qualidade"
Aquela que é considerada por muita gente como a melhor esplanada de Lisboa tem os dias contados: a câmara quer substituí-la por "um restaurante de muita qualidade".
No topo de um mercado desactivado situado na Calçada do Marquês de Tancos, nas proximidades da Rua da Madalena e da Baixa, O Terraço tem uma das melhores vistas de Lisboa. O casario e o Tejo estendem-se aos seus pés, para deleite de todos quantos visitam o local. O ambiente descontraído, com puffs, sofás e espreguiçadeiras, fazem o resto.
Na imprensa e na blogosfera os elogios sucedem-se desde que o bar abriu, no Verão de 2007: "Uma paisagem que até corta a respiração"; "Parece um crime o local não ter sido sempre assim"; "Neste espaço namora-se a cidade em todo o seu esplendor". A clientela é variada: muitos turistas, nacionais e estrangeiros, e diferentes tribos urbanas esparramam-se por aqui a partir do final da tarde para beber um copo ou comer qualquer coisa ligeira. Um dos quatro sócios do espaço, Tomás Colares Pereira, explica que quando se instalaram no topo do mercado já sabiam que se tratava de uma estadia precária.
Mas as obras para reconverter o edifício num silo automóvel e para nele instalar um elevador para facilitar o acesso ao Castelo de S. Jorge foram tardando, e O Terraço foi ganhando fama. Embora ainda não tenha data de arranque, este poderá ser o último Verão do bar. "Haverá 204 lugares de estacionamento, um supermercado no rés-do-chão e, no topo, um restaurante de muita qualidade", explica um dos administradores da Empresa Municipal de Estacionamento de Lisboa, Rogério Pacheco.
Os sócios do espaço poderão candidatar-se à sua exploração, dependendo das condições. Outra sócia, Camille Ferron, entende que um restaurante de luxo acabará com o "uso democrático" do espaço, agora aberto a todos. "Contamos com a mobilização dos clientes", diz, em jeito de pedido.
Adenda: Ao mesmo tempo que se fecham os bairros históricos ao trânsito - basta andar uns metros até ao Chapitô para perceber que os carros não podem circular, a não ser os dos residentes - projecta-se um parque de estacionamento com 204 lugares. Tem lógica, uma vez que o parque estará situado antes dos acessos interditos, possibilitando às pessoas deixarem o automóvel num lugar seguro e legal. O que a mim me faz impressão é a necessidade que esta gente tem de levar o carro para todo o lado. Subir uma rua a pé não faz mal a ninguém, antes pelo contrário...
segunda-feira, 7 de setembro de 2009
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2 comentários:
Também sinto essa tristeza e indignação... Os Lisboetas não merecem isto!
Ora f***-se. Passei lá tantas noites neste Verão. Das melhores. É melhor correr para lá e ver se já se está a organizar a revolta.
Cheers,
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