Todos os homens da família morriam sozinhos. Sozinhos, secos e de pele curtida, sentados num banco a ver as árvores a dar fruto e os frutos a amadurecer e a cair e a apodrecer e as estações a chover e a crestar a terra. Todos os homens morriam sós e voltavam ao pó. As mulheres também morriam, mas uma mulher nunca morre só. Há sempre uma dor que lhe faz companhia, uma dor estranha e inatingível aos olhos machos.
Passou a porta com um empurrão do corpo, sem tirar as mãos das algibeiras e com um vapor esbranquiçado a sair-lhe da boca, a guiar-lhe o caminho. Um sulco de cor gasta abria-se à sua frente, em direcção ao balcão, memória de anos de pés a arrastar-se pelo mosaico, memórias calcadas até ao chão. Vai um copo? Vai pois! Os homens da família morriam sós, de sorriso diluído no fundo de um copo de três.
No exterior do único café da aldeia a noite descia enregelada. Pela manhã estaria tudo branco de geada. Pela manhã as pegadas mal se notariam.
terça-feira, 6 de janeiro de 2009
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2 comentários:
todos os homens são panisgas :)
eu aqui a escrever coisas sérias, sofridas, intensas, e vens tu... pimbas! Mas sim, todos os homens são panisgas... :))))
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