Por vezes damos quedas na vida. Daquelas feias, como quem esfola um joelho e não quer álcool na ferida, para não doer mais. Mas dói sempre. Esperneia-se, guincha-se e chama-se por uma mãe, prova-se o sal a escorrer pela cara e faz-se do corpo um bicho de conta. E faz-se de conta que tudo se vai resolver. Faz-se de conta com tanta força, de olhos e punhos cerrados e lábios comprimidos, como quem deseja um milagre e consegue, que se acaba por acreditar. E eu creio. Em mim. Na música silenciosa que toca cá dentro e me faz erguer o peito e sair por aí, numa direcção a construir de improviso.
Por vezes damos quedas na vida. E há quem pegue em nós, uma mão igual à nossa, passos fortes e em simultâneo inseguros, como inseguros e fortes são estes que tenho. E há quem pegue em nós e nos leve a dançar freneticamente e a beber umas quantas cervejas e fumar mais uns quantos cigarros e há quem nos abrace com toda a força que um abraço pode ter e nos limpe as lágrimas e aguente, sem vacilar, os espasmos de um corpo desiludido e descontrolado. Por vezes damos quedas na vida. E há quem nos ame o suficiente para não dizer nada e, dessa forma, dizer tudo aquilo que precisamos para nos levantar.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
Leste o "dança, dança, dança" do Haruki Murakami?
Vítor: Não, por acaso não li. Mas às vezes ouço o "Transmission" enquanto fumo um cigarro... :) (dance, dance, dance, dance to the radio...)
Enviar um comentário