há...

há:
incerteza
deliciosa
numa parede
de um azul
inesgotável.

poema al dente

Que angústia tenho
ao comprar uma escova de dentes!
Uma escovinha apenas
não estou a falar de pentes.
Máquinas aerodinâmicas
perfilam-se na prateleira
do supermercado.
Que canseira!
Modelos e inovações várias
pró tártaro e prá gengiva
branqueadoras
sensíveis
artilhadas
vibratórias
milagrórias
prometem a felicidade futura.
E eu que só quero
lavar a dentadura!

conversa miada

Estão atentos a olhar
para mim.
Juro que um dia
se os ouvir falar
nunca mais volto a casa.
Mas agora dou-lhes o regaço
e eles não dizem nada.
Apenas miram
e seguem as danças que faço
com as presenças invisíveis
que me abanam
as paredes.
Tenho sedes.

dia de sábado

Mastigo umas banais
bolachas integrais
enquanto aguardo o dia
e uma noite mais.
Os gatos dão-me beijos, beijinhos
enroscados no meu pescoço
e nos meus pés.
A televisão fala comigo
mas eu não ouço.
Mio uma cantiga para
me entreter.